domingo, 25 de outubro de 2009

Explosão de cores

Antes de viajar para a Holanda, a Dinamarca ainda estava verde. Voltei três dias depois para encontrar o país coberto de amarelo, laranja e vermelho. São as belíssimas cores do outono que tomaram conta das árvores do país. Não posso deixar de admitir que essa explosão de cores é belíssima. O que me entristece nisso é que em breve o cinza e marrom dos galhos pelados vão substituir as cores vibrantes das folhas.

Mudança de estacão também traz mudança nos relógios. Hoje começou o horário de inverno e a diferença de fuso entre Brasil e Dinamarca diminui de cinco para apenas três horas.

sábado, 24 de outubro de 2009

Conferência

Acabei de voltar de uma cidade perto de Amsterdam e com um nome que não consigo pronunciar, (Noordwijkerhout) na Holanda, aonde fui participar de uma conferência sobre arrecadação de fundos em organizações não governamentais (the International Fundraising Congress). Fiquei impressionada com a ótima organização do evento e a forma calorosa com que entidade por trás do evento, Resource Alliance, recebeu os participantes.

A qualidade dos palestrantes e o bom nível dos debates também me impressionou e recomendo a todos que trabalhem em instituições não governamentais e que estejam atrás de inspiracão e boas idéias a participar do congresso, que acontece anualmente na mesma cidade holandesa.

Não sou realmente a “arrecadadora de fundos” da minha organização, mas como responsável pela presença do IRCT na internet, preciso aprender mais sobre como canais como o nosso site e nossas páginas no facebook, twitter e youtube podem ser usados para atrair ativistas virtuais para apoiar nossa causa e, eventualmente, aumentar a quantidade de doações individuais para nossa organização.

Nos três dias da conferência ouvi e conversei com pessoas representantes de organizações com causas das mais diversas. Havia, por exemplo, representantes de instituições que promovem pesquisa para o tratamento do câncer, de apoio a pacientes de câncer, da área ambiental, de mulheres africanas, de trabalhadores alemães e de promoção de educação de jovens do Oriente Médio. Comum a todas essas organizações é a preocupação sobre a repercussão da crise econômica sobre a arrecadação de fundos para manter suas atividades. Muitas dessas organizações estão recorrendo à internet para buscar doações e o apoio de voluntários.

Aliás, por falar em IRCT e internet, já conferiu o novo site do IRCT?

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Noite gelada e noticia boa

Acabei de ler na página do serviço de meteorologia da Dinamarca (www.dmi.dk) que a noite passada foi a primeira noite gelada em termos meteorológicos deste inverno 2009/2010.

Coisas engraçadas se aprendem quando vivemos num país frio como a Dinamarca. Para mim, noite gelada é noite gelada. Mas não. No jargão dos especialistas no assunto, uma noite gelada em termos meteorológicos é aquela em que a temperatura do ar numa altura de dois metros acima do solo fica abaixo de zero.

Depois da noite gelada, uma notícia boa. Estive hoje no hospital para me submeter a uma mamografia e ultrassom que mostraram que meu peito mastectomizado não há nenhum sinal de câncer.

Antes do exame eu estava tranquila e confiante de que não encontrariam nada de errado, mas ainda assim foi ótimo receber uma confirmação de que tudo está bem.

Resistência

Preciso voltar à Dona Katrine. Um artigo no jornal Politiken alguns dias atrás me fez ficar pensando no que ela diria sobre um grupo de dinamarqueses que está se auto-intitulando "O novo movimento de resistência". Isso porque um dos maiores feitos da longa vida da Dona Katrine foi participar do movimento de resistência contra a ocupação nazista da Dinamarca na Segunda Guerra Mundial.

Eu não sei muito sobre da atuação de Dona Katrine no movimento de resistência, a não ser que durante dois anos ela viveu com duas identidades para cobrir suas atividades clandestinas. Mas enquanto Katrine arriscou a vida para resistir à invasão alemã, os membros da auto-intitulada resistência de hoje arriscam ir para a cadeia porque estão ajudando iraquianos que tiveram seus pedidos de exílio recusados e estão em situação ilegal na Dinamarca.

No grupo há pessoas de diversas profissões, incluindo enfermeiras e parteiras que assistem os exilados que evitam procurar o sistema de saúde dinamarquês com medo de serem presos e enviados de volta para o Iraque. Ninguém sabe exatamente quantas pessoas fazem parte dessa nova “resistência” porque embora algumas pessoas falem publicamente do trabalho que fazem pelos iraquianos, outros preferem manter silêncio sobre suas atividades.

O grupo se formou a partir da organização criada para apoiar os iraquianos que se refugiaram na Igreja Brorsons e chegou a ter uma conta bancária publicamente anunciada para quem quisesse doar dinheiro ao grupo. Mas desde que se expôs através da imprensa, o grupo foi enfrentando oposição e dificuldades cada vez maiores. A conta bancária foi fechada pela direção do banco, políticos dos partidos que formam o atual governo criticaram duramente a iniciativa e a polícia começou a apurar o caso. Na semana passada o grupo anunciou que vai parar de angariar fundos publicamente para evitar problemas com a polícia. Mas é sabido que o movimento clandestino de apoio aos exilados iraquianos continua.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Diferenças sutis

Duas festas às quais fui convidada semanas atrás me deram um exemplo curioso das diferenças entre nós, brasileiros, e eles, dinamarqueses. Amigos dinamarqueses do meu marido nos convidaram para uma festa de despedida do verão de 2009. O convite enviado por e-mail dizia que o tema da festa era o verão e daí concluímos que deveríamos nos vestir a carácter. Eu não esperava muito daquela festa porque já me decepcionei muito com eventos do tipo promovidos por dinamarqueses. Depois de anos Minha conclusão é que, em matéria de festa, dinamarquês é subdesenvolvido, tadinho.

Aqui é preciso esclarecer. Quando escrevo festa, me refiro a música animada, povo alegre e barulhento, muita dança, porque adoro dançar, alguma bebida e, se possível, comida gostosa, mesmo que sejam só tira-gostos. Essa combinação, dinamarquês raramente entrega.

Ainda assim resolvi me vestir a caráter buscando inspiração no Brasil, onde, afinal, é verão quase o ano inteiro. Tirei do fundo do armário um vestidão amarelo ouro, bem daquele amarelo da nossa bandeira, e me enfeitei com maquiagem e bijuterias bem coloridas. O pior, ou melhor, minha salvação, é que encorajei meu marido a se vestir com uma camisa azul piscina que ele comprou em Salvador. Pois é, juntos parecíamos um uniforme da Seleção Brasileira.

Chegamos à casa da festa e a primeira coisa que percebi foi que estava sendo vítima de uma situação clássica, já vivida por muita gente antes de nós. Todos os convidados presentes, e quando eu escrevo todos quero mesmo dizer todos, estavam vestidos elegantemente com roupas escuras último modelito outono-inverno 2009. Até mesmo o casal dono da festa nos apunhalou pelas costas. A dona circulava alegremente num vestido preto e o marido a acompanhava em calças pretas e uma camisa clara de mangas longas. Nem precisa dizer que nossos trajes reforçaram a sensação que sempre tenho em festas dinamarquesas: a de um peixinho fora d'água. A festa foi mais ou menos o que se podia esperar. Comida gostosa, pouquíssima gente dançando e muita, muita bebida.

Como Deus nem sempre é padrasto, fomos convidados por duas amigas brasileiras, uma paulistana e a outra carioca, para uma festa comum de aniversário que aconteceria três semanas depois da mancada azul e amarela. Nessa festa também havia um tema: “A festa mais louca de todas” (minha tradução). Para meu azar, o dia da festa caiu no mesmo dia em que meu marido convidou a família dele para um jantar para comemorar o aniversário dele. Não dava mais para desmarcar o jantar mas fiquei matutando que, como festa de brasileiro começa tarde e jantar de dinamarquês termina cedo, eu ainda tinha uma chance de poder dar um pulinho na festa.

Dito e feito: meu marido e eu chegamos bem tarde à festa, mas ainda assim deu para curtir a diferença. Na festa das brasileiras, pirata, africana, super homem, egípcia, chinesa, japonesa, cowboy, árabe, passistas e destaques de escola de samba, índios, dançarinas, Sherezade, mulher gato e outras figuras dançavam ensandecidamente, bebiam um bocado e se divertiam adoidado.

Eu estava exausta, depois de passar o dia preparando o jantar para quinze pessoas da família do meu marido, mas o pique da festa era contagiante e nos juntamos à catarse coletiva dançando o mais que pudemos. Voltamos para casa no fim da madrugada fria, de bicicleta porque aqui ninguém, ou quase ninguém, dirige depois de beber. Eu estava a-ca-ba-da, mas a alma, lavada.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Deu Rio

É impossível não deixar de me emocionar com as imagens sobre a escolha do Rio de Janeiro para sediar as os Jogos Olímpicos de 2016. Lula chorando, bandeiras brasileiras na praça central de Copenhague e festa em Copacabana. Mas ainda não estou convencida de que a vitória do Rio sobre Chicago, Tóquio e Madri foi uma boa.

Aliás nem me sinto autorizada a ter uma posição sobre o assunto porque enquanto Copenhague fervilhava com a passagem de figuras como Michele e Barack Obama, Oprah Winfrey e príncipes japoneses, sem falar do já mencionado Lula, eu me recolhia diante do meu computador, trabalhando quase sem pausa no relançamento da página da internet do IRCT. Na correria desses dias, li, vi e senti muito pouco da confusão causada pelo comitê olímpico.

Nos últimos dias, além do cansaço físico e mental causado pelas horas extra de trabalho, o que eu realmente senti foi a chegada do frio. Temperaturas abaixo de 15 graus durante o dia e abaixo de 10 à noite. Infelizmente, a efervescência trazida pela escolha da sede dos jogos de 2016 não foi suficiente retardar a chegada do inverno.