quarta-feira, 24 de março de 2010

Aviso e lamento

Aviso às navegantes: o método de reconstrução do seio com o uso de um expander dói sim senhor. Quem estiver pensando em usar este método deve se preparar porque a coisa pode doer muito.

Ontem deveria ter voltado ao hospital para receber a terceira e última injeção de solução salina no meu peito. Mas, no dia anterior, tive que ligar para o hospital para cancelar a aplicação. Percebi que não aguentaria outra semana cheia de dor e desconforto físico como a que acabara de experimentar. A aplicação foi adiada por uma semana e já decidi que da próxima vez pedirei para receber um volume menor do que os 100 ml que recebi a semana passada.

Logo depois da aplicação da semana passada, comecei a sentir dores fortes no lado esquerdo do peito e no ombro esquerdo que continuaram pelos dois dias seguintes. Os analgésicos não foram suficientes para diminuir a dor que se alastrou pelo braço esquerdo e pelas costas. O desconforto e dor eram maiores na hora de ir para a cama, onde ficava horas procurando inutilmente uma posição que não causasse dor e acabava dormindo de puro cansaço. Também quase não consegui trabalhar porque sentada eu também não conseguia ficar por muito tempo. Ontem e hoje comecei a me sentir melhor. A dor passou, embora o desconforto continue quando vou dormir e a região do seio reconstruído ainda esteja muito dolorida.

Nesses dias, em nenhum momento pensei que não deveria ter feito a operação para reconstrução do seio, mas me irritei com o fato dos médicos não terem me preparado para a dor que poderia sentir. Me avisaram que haveria alguma dor, que seria facilmente aliviada com analgésicos comuns, mas o que senti foi muito pior do que esperava.

No auge da minha angústia, procurei na internet informações sobre a ocorrência de dor em procedimentos como o meu e quase invariavelmente li textos assinados por médicos garantindo que o método não causa dor. Em meio a tanto otimismo, achei um ou outro médico que admitia que algumas pacientes sofriam bastante dor, especialmente a partir da terceira ou quarta aplicação.

Depois fui atrás de depoimentos de pacientes que haviam passado pelo mesmo procedimento e aí a história mudou de figura. Várias delas haviam passado pelo mesmo que passei. Depois, quase por coincidência, fiquei sabendo de uma conhecida que está numa fase mais avançada do mesmo método que também tem sofrido bastante.

Me senti quase enganada. Claro que não gosto de dor, mas consigo conviver melhor com ela se sei que terei que enfrentá-la. E desta vez fui pega de surpresa.

sábado, 13 de março de 2010

Glauco

Nossa, mataram o Glauce e o filho dele! Que tristeza! Que absurdo!
Fiquei chocada e triste.
Parece até que era alguém que eu conhecia de perto. Talvez conhecesse mesmo, só que através dos seus personagens da pá virada. O Geraldão era quase como se fosse um primo doidão.
Emocionante ver as homenagens ao Glauco no www.universohq.blogspot.com
Que perda!

sexta-feira, 12 de março de 2010

Prêmio controverso

Às vezes aqui na Dinamarca me sinto sozinha no meu jeito de pensar, como se eu fosse a única em toda essa pequena nação que enxergasse o absurdo na maneira como alguns políticos dinamarqueses falam de pessoas que têm religião e cultura diferentes das deles. Como se eu fosse a única que se enfurecesse quando políticos do partido de extrema direita que participa da aliança governista, sem o menor constrangimento, dizem horrores como "os homens muçulmanos não só matam suas filhas como também fingem não ver que elas são estupradas pelos tios delas".

Embora eu não saiba onde estão, talvez porque não ganhem espaço na mídia, deve haver muitos aqui que pensam como eu. Mesmo assim frequentemente chego a me achar uma esquisita, como se minhas opiniões contra a discriminação religiosa que os muçulmanos sofrem aqui na Dinamarca fossem tão radicais que me transformassem numa extremista.

Por isso me senti de alma lavada quando semanas atrás li uma longa entrevista com o escritor dinamarquês Carsten Jensen no jornal Politiken. Ele é um dos romancistas e ensaístas contemporâneos mais populares e premiados na Dinamarca, autor de “Vi o mundo começar" (minha tradução do título em inglês I've seen the world begin. ) e Nós, os afogados (minha tradução do título original em dinamarquês, "Vi, de druknede”).

Nessa entrevista Jensen disse:

“ - Se eu fosse imigrante, eu me se sentiria muito ofendido pelo modo como se referem a mim (…) Eu me sentiria diminuído”.

Recentemente ele recebeu o prêmio Olof Palm, por seu “humanismo, sensatez e fé no futuro”, concedido pelo Fundo pelo Entendimento Internacional Olof Palm. O prêmio o colocou ao lado de laureados nobres e respeitados como Anistia Internacional (1991), Václav Hnavel (1989), Daw Aung San Suu Kyi (2005), a ativista iraniana Parvin Ardalan (2007). Ao invés de se orgulharem do reconhecimento recebido pelo conterrâneo, muitos dinamarqueses ficaram furiosos com o prêmio e a imprensa reagiu de forma surpreendentemente negativa.

“Carsten Jensen recebe 400.000 coroas por criticar a Dinamarca” (Carsten Jensen får 400.000 kr. for at kritisere Danmark ), foi a manchete do Politiken, que é o mais à esquerda entre os três grandes jornais do país. Algo no mesmo tom saiu no site do DR, o maior canal de TV do país. Leitores do jornal chamaram o escritor de hipócrita e covarde e alguns pediram que ele se mudasse para a Suécia.

Tanta reação quase me chocou. Mas depois de ler um pouco mais sobre Jensen, comecei a entender tanta ira. Como um outro leitor do Politiken comentou, as reações furiosas são uma prova de que “... Carsten Jensen acerta no cerne do problema com a Dinamarca. Carsten Jensen mereceu esse prêmio. Peguem um Kleenex e sequem o ódio dos estrangeiros de suas faces” (minha tradução).

sábado, 6 de março de 2010

TV dinamarquesa: Brasil – a nova potência mundial

Interessante ver como a imagem do Brasil mudou por estas bandas. Esta semana o canal de televisão DR2, que com seus bons documentários e programas jornalísticos na minha opinião é o melhor canal aberto da Dinamarca, dedicou uma série de reportagens ao Brasil no programa DR2 Udland (DR2 Exterior), transmitido de segunda a sexta-feira. O nome da série diz muito sobre como os dinamarqueses estão começando a ver nosso país: Brasil – a nova potência mundial (Brasilien – verdens nye stormagt).

As reportagens trataram de várias questões como a boa fase da economia brasileira, as ambições brasileiras no cenário diplomático e militar internacional, sucessão do Lula, racismo e desigualdade social. Tudo de uma maneira bem superficial, embora eu não ache que tenham dito nada errado, mesmo que eu não concorde muito com algumas das opiniões emitidas.

De qualquer maneira, já não era sem tempo. Adoro samba, futebol e sou defensora ardorosa das florestas brasileiras, mas já estava cansada de sempre ouvir falarem do meu país como se lá os homens não fizessem outra coisa a não ser jogar futebol e as mulheres andassem o ano inteiro trajando fio dental e dançando samba no meio da Floresta Amazônica, onde, claro, está fincada a estátua do Cristo Redentor. Claro que há muitos dinamarqueses extremamente bem informados sobre o que acontece ao sul da linha do Equador, mas também há muitos que só agora estão descobrindo que há mais do que samba, floresta e futebol no lugar de onde veio. Agora só precisam descobrir que falamos português e não “brasiliansk” nem espanhol.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Contra a maré

Uma organização de estudos sociais e econômicos mantida pelos sindicatos (Arbejderbevægelsens Erhvervsråd - AE) acaba de publicar um estudo que mostraria que, em 2007, 200.000 dinamarqueses, numa população de pouco mais de 5 milhões de pessoas, vivem na pobreza, definida de acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD, em inglês), segundo a qual pobres são aqueles com renda abaixo de metade da renda média do país.  De acordo com o estudo do AE, o mais alarmante é que o número de pobres na Dinamarca cresceu 50 por cento no período que vai de 2001 a 2007 e não há nada que indique que a tendência se reverteu nos últimos dois anos, marcados por crise econômica e aumento do desemprego.

Muitos, inclusive o governo, contestam os números do AE, dizendo que o conceito de pobreza relativa da OECD é simplista e enganoso pois não dá uma imagem muito clara da realidade. Afinal, que pobre do Brasil não gostaria de viver com 8.400 coroas (cerca de 2.800 reais) por mês, que equivalem a metade da renda média dos dinamarqueses? Outra crítica é de que, em tempos de crescimento econômico, como foi o período 2001-2007, a renda total cresce e, consequentemente, a média da renda também, o que acaba colocando mais gente abaixo da linha da pobreza, mesmo que a a renda real dessas pessoas tenha se mantido inalterada.

Sem dúvida, pobreza, como medida pela AE, parece luxo na parte pobre do mundo e até no Brasil onde o salário mínimo é de apenas 1.500 coroas. Mas, não dá para negar que, se não mede a pobreza de forma precisa, o estudo da AE mostra, no mínimo, que a desigualdade social na Dinamarca está aumentando. O que, na minha opinião, não deixa de ser lamentável, ainda mais quando lembramos que 2010 é o Ano Europeu de Luta contra a Pobreza e a Exclusão Social.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Mudanças de estação

De volta para casa há uma semana, ainda me recuperando da cirurgia plástica, estou tendo um pouco mais de tempo para ler os jornais dinamarqueses, onde a um bocado de notícias sobre as mudanças no ministério feitas pelos dois partidos de centro direita que estão há dez anos no poder, o Venstre e o Konservativ. Os novos ministros, que assumiram na semana passada, tem muito o que fazer já que pelo terceito mês consecutivo, pesquisas de opinião indicam que o governo perdeu apoio da maioria da população. Se houvesse eleição hoje, os partidos de centro esquerda venceriam com 50,7% dos votos contra 49,3% dos partidos da base governista.

As mudanças políticas parecem ter trazido mudanças no tempo. Finalmente parece que a primavera está chegando. As noites ainda estão geladas, mas aparentemente os dias com temperaturas abaixo de zero terminaram por esta estação. O gelo está derretendo lentamente e logo será hora de voltar ao jardim, onde as flores de primavera mais audaciosas já começam a desafiar o frio.