sexta-feira, 28 de maio de 2010

Ensaio clínico

O lançamento da campanha Mundo Sem Tortura (www.worldwithouttorture.org) não foi a única coisa que me manteve ocupada nas últimas semanas. Dias atrás estive novamente no hospital onde recebi tratamento contra o câncer de mama para um exame de rotina e a médica que me atendeu me deu uma informação que me deixou com uma pulga atrás da orelha.

Depois de terminada minha quimioterapia, recebi por um ano o medicamento trastuzumabe (nome comercial: Herceptin, uma droga que havia apresentado resultados muito bons no tratamento do meu tipo de câncer, o HER2 positivo. O trastuzumabe foi usado para inibir a expressão da proteína HER-2, que aumenta a possibilidade de recorrência do câncer e acelera a multiplicação das células cancerosas.

O trastuzumabe começou a ser usado há menos de 10 anos e só agora está se vendo os resultados a longo prazo do tratamento com a droga. Segundo a médica, infelizmente está se observando que, anos depois do tratamento terminado, o câncer volta a atacar muitas das mulheres que foram tratadas com trastuzumabe. Perguntei o que ela queria dizer com “muitas”, mas a resposta foi evasiva. “Mais do que gostaríamos de ver”, foi a resposta.

Perguntei também quais as minhas chances de que o câncer volte daqui a 5, 10 anos, mas ela novamente evitou uma resposta muito clara. Disse que era muito difícil fazer uma avaliação mais precisa porque há inúmeros fatores envolvidos, como idade, reação ao tratamento, tamanho do tumor etc e tal. Na consulta, a médica me ofereceu a oportunidade de participar do ensaio clínico de uma droga nova, a neratinib, inibidora da HER-2.

Saí de lá desanimada, com todas aquelas nuvens sombrias e eu havia esquecido havia algum tempo me perseguindo novamente, mas quase decidida a aceitar participar do ensaio. Só faltava eu conversar com meu marido. Achava que ele deveria ser informado da minha decisão, já que os efeitos colaterais do remédio poderão afetar um pouco nossa rotina.

No dia seguinte à consulta comuniquei a equipe do hospital que aceitava entrar no estudo. Na minha decisão pesou muito a lembrança dos dias de quimioterapia. Dias como aqueles quero tentar evitar.

Por um mundo sem tortura: A World Without Torture

Imagine um mundo onde não existe tortura. Este é o sonho que o IRCT (Conselho Internacional para Rehabilitação de Vítimas de Tortura) está procurando compartilhar com o maior número possível de pessoas através de uma campanha no Facebook.

A adesão à campanha, da qual sou uma das principais coordenadoras, tem sido fantástica. Em dois dias, mais de 1.100 pessoas se juntaram à campanha.

Olha o link aqui: www.facebook.com/WorldWithoutTorture

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Mesmice

Para variar, ando ocupadíssima no trabalho e em casa. Mas a razão principal do meu recente afastamento do blog foi que de um dia para o outro comecei a achar que me faltava assunto. Pensei em escrever sobre a primavera, a maravilhosa profusão de cores dos jardins de Copenhague, mas me lembrei que já escrevi sobre isso. Poderia registrar que as árvores estão novamente se cobrindo de verde, que a ameixeira do vizinho logo estará belíssima coberta por seu véu de flores brancas ou que os narcisos exageram no amarelo desavergonhadamente alegre. Mas tudo me pareceu repetitivo e banal.

Comecei a achar que pouca coisa fazia sentido nessa alegria que sinto toda vez que a temperatura começa a aumentar e os dias se tornam longos e as noites claras. Tudo se repete, entra ano sai ano, tudo é igual.

Minhas divagações quase existencialistas continuaram um pouco mais e até começaram a fazer meu ânimo murchar. Aí dei um chega para lá em tanta elucubração. Melhor seguir, ir em frente, mesmo não sabendo bem para onde.

Aí a primavera esvaneceu, o frio voltou. Estes primeiros dias de maio têm sido os mais frios do mês em anos. Na manhã da última segunda-feira a temperatura chegou a -1,6 graus centígrados. Fazia cinco anos que não havia uma manhã de maio tão fria quanto essa. Os meteorologistas não prometem temperaturas muito mais altas nos próximos dias, o que me faz quase lamentar meus questionamentos sobre a banalidade da minha alegria primaveril. Me senti punida pelo frio, acompanhado de um vento irritante, que me obrigou a voltar a calçar botas de cano alto e empacotar minha filha em luvas, touca, e casacão de inverno.