terça-feira, 13 de maio de 2008

A cruzada de Pia

Um tempo atrás, um dos maiores jornais da Dinamarca anunciou o lançamento de um livro que conta a história das 10 pessoas mais influentes do país. Na lista, apenas uma mulher. O fato da lista só ter uma mulher seria suficiente para me incomodar já que se poderia esperar um pouco mais de um país conhecido por ser um dos mais avançados no reconhecimeto dos direitos das mulheres.

Mas a tal lista me grilou ainda mais porque a única mulher incluída, Pia Kjærsgaard, é uma das políticas mais conservadoras e, talvez como consequência do seu conservadorismo, mais populares da Dinamarca. Famosa por defender políticas anti-imigração e anti-imigrantes, ela lidera o Partido do Povo Dinamarquês (Dansk Folkeparti).

Criado em junho de 1996, o DF (sigla em dinamarquês) tem uma trajetória espetacular. Já nas eleições de 1996 conseguiu 7,4% dos votos e no ano passado recebeu 13,8 % dos votos – suficientes para que o partido aumentasse para 25 o número de vagas no parlamento e mantivesse seu posto de terceiro maior partido do país.

De fato, não é de estranhar que Pia fizesse parte da tal lista. Ela é realmente uma das pessoas mais influentes do país. Para não desagradar seus próprios eleitores, o partido no poder, o Venstre (embora o nome signifique esquerda, o partido é de centro-direita), não ofereceu cargos ao DF. Mas isso não diminuiu o poder do partido de Pia, do qual o governo depende para conseguir maioria no parlamento.

Pia Kjærsgaard não gosta de ser chamada de racista. Aliás, já andou processando pessoas que a classificaram como tal. O problema é que abundam exemplos de que ela e seu partido são o que não gostam de ser chamados. Um dos mais notórios foi a impressão de um cartaz da ala jovem do DF contra o crescimento da população imigrante. O cartaz comparava a Dinamarca de hoje, mostrando jovens brancos sorrindo com ar saudável e feliz, com a Dinamarca daqui a dez anos, mostrando moças com o rosto coberto, à maneira islâmica, e rapazes, aparentemente de origem árabe, em atitude desafiadora, como se estivessem prontos para uma ação terrorista.

Ela combate, como já declarou, uma Dinamarca multiétnica e multicultural porque – muito simples – a Dinamarca é para os dinamarqueses. Faz uso de generalizações grosseiras ao dizer que os refugiados que chegam ao país têm desprezo por tudo que é dinamarquês, ocidental e cristão e estão mergulhados em cultura medieval.

Para desempenhar o papel de protetora da Dinamarca branca e cristã, Pia se veste literalmente a caráter. Não com armadura e lança, como os guerreiros medievais, mas freqüentemente com terninhos cor-de-rosa que são de matar.

Infelizmente para ela e para os pouco mais de cinco milhões de pessoas que conseguem entender dinamarquês, a voz dela é uma lástima: esganiçada e fanhosa – um misto de Roberto Carlos com Dercy Gonçalves. Mas ela não se intimida: adota um tom doce e suave e parte para o ataque, sempre dando a impressão de que não está atacando ninguém, mas apenas defendendo sua virtuosa e imaculada Dinamarca.

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