domingo, 29 de novembro de 2009

Descoberta de São Paulo

A Dinamarca descobriu que São Paulo é uma das 10 melhores cidades do mundo para se visitar em 2009. Foi necessário que o Lonely Planet afirmasse isso para o jornal dinamarquês Politiken () ir atrás e publicar um artigo extremamente positivo sobre a cidade no caderno de turismo de hoje.

O problema é que a descoberta do jornal dinamarquês chegou com um ano de atraso. A lista do Lonely Planet foi divulgada em outubro de 2008 para o o anuário “Lonely Planet’s Best in Travel”, como registrado pela Época.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Gripe

A H1N1 anda fazendo estragos por aqui. As autoridades sanitárias preveem que um terço dos 1,6 milhão de habitantes de Copenhague será atingido pela gripe, que já fez seis vítimas fatais. Ainda é, felizmente, pouco, mas a epidemia aqui ainda está a caminho do auge de contaminação e mais mortes vão provavelmente acontecer em breve.

Há cartazes por todo lado com instruções sobre como prevenir a doença e o produto mais popular de farmácias, perfumarias e supermercados é gel antisséptico para as mãos.
Mas não é nada fácil evitar a contaminação num país que vive com as portas e janelas fechadas nos quase seis meses de inverno e onde as pessoas não têm o hábito de lavar as mãos antes das refeições. Hoje quase já me acostumei, mas nos meus primeiros anos de Dinamarca me surpreendi com os hábitos de muitos dinamarqueses. Coisas que para nós brasileiros parecem exemplos de pouca higiene ou péssimas maneiras à mesa, são normais por aqui. Um exemplo é comer verduras sem lavá-las antes. Ou cortar um pepino em rodelas um fatiar um pão diretamente sobre uma mesa da cantina do trabalho, ao invés de usar um prato ou tábua de cortar.

Por isso, em tempos de gripes porcas, passei a carregar na minha bolsa um tubinho de gel antisséptico. Às vezes me acho um pouco histérica com tanta precaução, inclusive porque até ser tarde demais: a gripe suína talvez já tenha passado aqui em casa. Na semana passada minha filha esteve bem gripada e pode até ter sido que ela tenha sido a primeira vítima da H1N1 aqui em casa.

domingo, 15 de novembro de 2009

Fruta exótica

O jornal que mais leio aqui na Dinamarca, o Politiken, tem um caderno semanal chamado comida (“Mad”) onde há sempre um artigo dedicado a uma fruta exótica. Na mesma seção do jornal já aparecerem espécies estranhíssimas aos paladar e olhos dinamarqueses como a jaca e o tamarindo. A fruta desta semana era, adivinhem só queridos leitores brasileiros, a nossa muitíssimo exótica goiaba. O artigo ensina os dinamarqueses a escolher uma boa goiaba, que não deve ser comida quando ainda está muito verde nem quando está madura demais.

A matéria ensina também que se deve descascar uma goiaba antes de se comê-la. Não contive o riso ao ler o artigo. Me lembrei dos melhores dias da minha infância, passados trepada numa das dezenas de goiabeiras da chácara da minha avó. Lá meus primos, minha irmã e eu nunca pensaríamos em descascar uma goiaba. Nossa preocupação não era a casca da goiaba, mas sim os bichinhos que de vez em quando encontrávamos na polpa da fruta. Essa era aliás uma das razões pelas quais preferíamos as goiabas com polpa vermelha. Além de acharmos que eram mais gostosas, nelas era menos frequente encontrar os tais bichinhos.

O bom de trepar nas goiabeiras era que as árvores, embora nunca se tornassem muito grandes, tinham galhos que eram suficientemente fortes para aguentar nossas macaquices. Quando trepávamos numa mangueira, tínhamos de tomar cuidado para escolher os galhos mais antigos e fortes, mas isso não era um problema com as goiabeiras. Outra vantagem das goiabeiras era que nelas nunca encontrávamos uma lagartas horrorosas e enormes que de vez em quando achávamos nos abacateiros. Isso fazia das goiabeiras os alvos favoritos das nossas escaladas arbóreas. Era só trepar, achar uma goiaba madurinha e comê-la com o cuidado de conferir entre uma dentada e outra se não estávamos invadindo a moradia de uma larva da mosca-das-fruta.

Voltando à matéria sobre a goiaba, tive que vir morar na Dinamarca, aprender dinamarquês para aprender que a goiaba tem um tal de eugenol que lhe da o saber tão característico. A jornalista lista vários usos da goiaba, mas nem menciona a nossa querida goiabada. Me deu vontade de lhe escrever reclamando da gravíssima omissão, mas fiquei só na vontade.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Vitamina D e rua

O problema do outono na Dinamarca é que ele é curto demais. Logo depois que você começa a achar que a cor das árvores é linda, elas perdem todas as folhas, a temperatura cai para 5 graus centígrados, o horário de verão acaba e as tardes escurecendo às quatro da tarde começam. Em suma, o inverno chega em menos de um mês e fica até o final de março.

Conheço gente aqui que acha lindo sentir frio, adora o vento gélido no rosto, se encharcar na chuva congelante ou escorregar nas ruas cobertas de gelo, mas ainda não encontrei um único dinamarquês ou estrangeiro que goste dos dias com o sol saindo às 7:30 e caindo fora às 16:00. Isso quando o astro rei dá o ar da graça. Muitas vezes, como aconteceu hoje, o sol fica lá escondido em algum lugar atrás de uma cobertura densa de nuvens. A massa de nuvens cinzas ficam bem baixas, como se fossem um teto no qual precisamos apenas estender o braço para tocar com a mão.

Em dias como hoje, dá vontade de chorar. Mas, claro, não se chora porque o tempo lá fora está horrível e você sabe que vai continuar assim por quatro meses. Não, deve-se resistir bravamente mesmo que o lugar mais interessante do mundo pareça ser a sua cama. Quando a vontade de chorar se juntar a um sono desanimador e uma preguiça avassaladora, está na hora de reagir e ir em busca de paliativos, remédios e preventivos contra o desânimo e aquela tristezinha.

Entre imigrantes e brasileiros de pele morena ou mais escura, vitamina D é bem popular. A receita é vitamina D e rua, sair para fora de casa para pegar ar fresco e toda a luz que sua pele conseguir absorver. Há quem apele para luz solar artificial, seja com lâmpadas especiais que podem ser usadas em casa seja indo para o que eles chamam aqui de “solarium” onde você se deita com roupa de banho numa cama e seu corpo recebe uma banho de luz. Ainda não apelei para o banho de luz mas amanhã vou atrás de vitamina D.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

A pipa tá no ar

Comprei duas pipas pela internet e domingo, depois do almoço, fomos minha filha, meu marido e eu, testar uma delas. Foi uma delícia. Eu teria ficado o dia todo lá naquele gramado aqui perto de casa tentando dar piruetas na pipa ou fazê-a mergulhar de bico, mas lá pelas tantas minha filha se cansou e começou a reclamar do frio. Tivemos de vir embora e no caminho de casa me lembrei daquela vez em que meu pai fez ou comprou uma arraia enorme e levou minha irmã dois anos mais nova e eu para soltá-la no campo de futebol que existia no cerrado lá perto de casa, em Taguatinga.

Aquela tarde me marcou. Meu pai era meu super pai, nossa pipa era provavelmente a maior e mais bonita do mundo, embora eu não me lembre que cor tinha, e a vida parecia um céu azul que estava bem ali, esperando para ser rasgado pelas minhas piruetas da nossa arraia.

Não me lembro de ter brincado de arraia depois daquela tarde. Fiquei na inveja e sem coragem de me misturar aos meninos, os donos da brincadeira de soltar arraias. Soltar arraia sempre foi brincadeira dos moleques da rua, incluindo meu irmão que anos mais tarde se tornou tão bom na construção de pipas que passou a vender as que construía aos garotos mais novos da vizinhança.

Final de abril, começo de maio, quando as chuvas diminuíam, começava também a estacão das pipas nas ruas de Taguatinga. O vento que criava redemoinhos de poeira vermelha, era ótima para levantar as pipas de papel de seda que a garotada empinava e pontilhava o ar de cores. No céu, as pipas competiam em beleza e acrobacias. No chão, a molecada lutava, muitas vezes com o perigoso cerol, para manter suas obras e o respeito na vizinhança. Eu não entendia muito as táticas usadas pelos garotos em suas batalhas aéreas, mas sempre lamentava quando uma pipa cortava a outra, que saía desmaiando sem rumo pelo céu.

No domingo quis dar à minha filha a alegria de soltar uma pipa. Minha filha gostou da brincadeira, meu marido adorou e eu, quase quarenta anos depois, fiquei deslumbrada.

A propósito, no Blog do Gutemberg, fiquei sabendo que além de pipa, papagaio e arraia, o brinquedo também é conhecido como cafifa, pandorga e quadrado. Lá também aprendi o que é “boca de chave”, “chave” e “dar um aú”, termos do jargão dos soltadores de pipa.