sábado, 26 de setembro de 2009

Zero decibel

Esta é uma grande iniciativa: uma campanha contra o uso da música como método de tortura.

A música que só deveria ser usada para nos proporcionar prazer, foi usada pela CIA Como método de tortura na chamada "guerra contra o terror". Prisioneiros foram mantidos no que ficou conhecido como "dark prison" (prisão escura) onde, completamente deprivados de luz, foram obrigados a ouvir a mesma música em volume ensurdecedor por dias e dias. Há relatos de ex-prisioneiros em Guantánamo dando conta de que as sessões de tortura chegaram a durar 20 dias ininterruptos.

A União de Músicos do Reino Unido e a ONG Reprieve se juntaram na campanha genial zerodB, que está juntando video e foto assinaturas de apoio à campanha. Vale a pena conferir.




quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Fotos de família

Nossa! Tenho trabalhado tanto que nem tenho tido tempo de blogar. E que falta o blog me faz.

Mas acho que vai valer a pena tanto esforço. O novo site do IRCT vai ficar o máximo, embora minhas ambições fossem ainda maiores. É que sou extremamente impaciente e queria fazer o site perfeito agora, ou melhor, ontem, mas uma série de limitações, inclusive financeiras, não vao deixar isso acontecer. Além do que, "saite" perfeito não existe. Estamos todos ainda aprendendo enquanto fazemos nesse mundo tresloucado da web.

Para não desaparecer completamente, passo adiante um link engraçadíssimo que uma colega de trabalho me enviou para aliviar a tensão desses ocupados dias: http://www.guidespot.com/guides/awkward_family_photos.

Vale a pena conferir.

sábado, 12 de setembro de 2009

Katrine

Perdi um dos meus embaixadores junto a Deus. Dias atrás faleceu repentinamente a tia avó do meu marido, Katrine Sofie ou a Gammel Faster, apelido em dinamarquês que significa "Tia velha". A morte foi repentina, mas surpreendeu pouca gente: ela tinha 98 anos de idade.

Cristã fervorosa, Katrine participava de grupos de oração onde, fiquei sabendo, eu era figura conhecida. No funeral dela, uma senhora se aproximou de mim e perguntou se eu era a Margareth. Adivinhar quem eu era não era muito difícil já que eu era a única morena no recinto. A tal senhora abriu um sorriso largo ao confirmar minha identidade e disse candidamente: ”Katrine rezou muito por você”. Ela disse aquilo para me alegrar, mas o efeito foi bem o contrário. Senti um frio na barriga e uma sensação de desconforto saindo da nuca e se espalhando pelas costas. ”Iiih! Que fria!”, pensei, de repente me sentindo completamente desprotegida.

Eu sabia que eu estava na boca dos grupos de oração da igreja da Katrine. Ele fazia questão de me contar quando ela e seus amigos da igreja haviam rezado por mim e não foram poucas as vezes em que isso aconteceu. Logo que cheguei à Dinamarca, pediram para que eu arranjasse um emprego, depois para que eu me saísse bem nos exames do mestrado que fiz aqui, no ano seguinte as rezas fossem para que eu, depois de repetidos abortos espontâneos, tivesse uma gravidez bem sucedida, depois para que o parto da Gabi corresse bem. Aí a coisa engrossou e as rezas devem ter ficado mais fervorosas. Soube que houve muito “Ave Maria, Pai Nosso” para garantir que meu tratamento contra o câncer de mama desse resultado. Os pedidos a meu favor prosseguiram com o tratamento do meu linfedema e, pelo que a tal senhora que adivinhou quem eu era insinuou, continuaram até pouco antes do falecimento de Katrine.

De vez em quando Katrine nos ligava aqui em casa para saber como estávamos mas hoje, pensando bem, acho que ela ligava mesmo era para conferir se a reza tinha dado resultado. Não posso dizer que não. Arranjei emprego, passei com boas notas no mestrado, tive, afinal, uma gravidez e parto muito bem sucedidos, o tratamento do câncer está dando resultados e o linfedema está sob controle. Depois de tudo isso, é ou não é para eu me preocupar?

domingo, 6 de setembro de 2009

Ando meio sumida

É que o bicho está pegando lá no trabalho, com muitos projetos rolando ao mesmo tempo. Um deles é a criação de uma comunidade virtual global de apoio ao IRCT (International Rehabilitation Council for Torture Victims), onde trabalho. Por enquanto, quem quiser mostrar seu apoio ao trabalho da organização pode se tornar fã da página do IRCT no Facebook (http://www.facebook.com/irct.org ) mas estamos trabalhando para criar um site específico para os que querem apoiar a luta ontra a tortura e de apoio à recuperaçao de pessoas que foram vítimas da tortura.

Hassan e Gulizar

A situação de Hassan Gardi talvez seja o mais triste exemplo do quão absurda é a atual política de imigração do governo dinamarquês. Ele 72 anos, é demente, pesa somente 47 quilos, passa boa parte do tempo deitado e depende de ajuda para ir ao banheiro, se lavar e se alimentar. Hassan estava entre os iraquianos que se refugiaram na Igreja Brorsons e, segundo sua esposa Gulizar, ficou completamente desnorteado quando a polícia invadiu o local e tirou todos os refugiados de lá. O jornal dinamarquês information.dk conta que o casal foi colocado no olho da rua e depois de perambular por algum tempo no meio da confusão criada por manifestantes e polícia, foi resgatado por ativistas que agora os mantêm escondidos das autoridades.

A legislação dinamarquesa prevê que refugiados com problemas graves de saúde mental podem ser ganhar permanência na Dinamarca por motivos humanitários. Apesar disso, e contra opinião emitida em laudos médicos, o Ministério que cuida dos pedidos de asilo, ironicamente chamando de Ministério da Integração, rejeitou o pedido de permanência por motivos humanitários a favor de Hassan e Gulizar. Na explicação do Ministério, demência não é doença grave e o fato de Gulizar cuidar do marido é considerado suficiente para justificar enviar os dois de volta para o Iraque.

Que Gulizar seja analfabeta, não tenha uma profissão ou que o ganha pão do casal, uma cafeteria em Erbil no norte do Iraque, tenha explodido nos ares depois que um carro bomba estacionou em frente ao estabelecimento, foi ignorado pelo Ministério da Integração (esse nome quase me dá náuseas). Ainda assim Gulizar mantem as esperanças e tenta tranquilizar o marido dizendo que ele não precisa ter medo porque “estamos num país humano, onde os direitos humanos têm grande significado”. Torço por eles para que ela tenha razão.