terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Jogando a toalha

Depois de mais uma noite insone joguei a toalha. Hoje fui à uma farmácia comprar um remédio que talvez ajude a controlar as ondas de calor que me invadem dia e noite, noite e dia e que há meses me impedem de ter uma boa noite de sono. Já não me lembro a última vez em que dormi oito, sete, seis ou até mesmo cinco horas seguidas.

Estou ficando cansada dessas noites mal dormidas ou mesmo insones, como foi a passada.

Ontem, quando fui ao hospital receber mais uma injeção de herceptin, tive também uma consulta com um médico simpático que nunca tinha visto antes. Ele me receitou um comprimido que, pelo que se sabe, só funciona em 20% dos casos. Perguntei se o tal remédio tinha muitos efeitos colaterais e ele me garantiu que eu talvez apenas sentisse uma queda de pressão. Para quem, como eu, já tem pressão normalmente baixa, o tal efeito colateral não foi boa notícia, mas decidi arriscar usar o tal remédio na esperança de estar entre as 20%.

Hoje à noite tomei o primeiro comprimido. Antes, conferi a bula e me assustei com a lista comprida de possíveis efeitos colaterais que, além da queda de pressão, inclui, por exemplo, prisão de ventre, insônia, depressão, dor de cabeça, alucinações, enjoo, impotência. Estou torcendo para que, além de estar entre as 20% para quem o remédio funciona, também esteja entre as que não sente efeitos colaterais.

Daqui a pouco vou para a cama sonhando com uma boa noite de sono.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Pai nosso

Eu não deveria mais ficar chocada com alguns dos absurdos que ouço aqui na Dinamarca, mas algumas vezes é inevitável.

Alguns dias atrás a imprensa daqui se ocupou sobre se ocupou com uma discussão sobre se os alunos de primeiro grau devem ou não, antes de entrar em sala de aula, serem reunidos para rezar o Pai Nosso.

Uhuuuu! Estamos ou não num pais que se diz democrático e moderno em pleno século XXI? Isso não implica que as escolas são para todos, independentemente da religião ou falta de religião dos alunos? Não cabe aos pais decidir sobre a orientação religiosa dos filhos e mais tarde às próprias crianças de que igreja elas vão fazer parte?

Aqui na Dinamarca parece que não é bem assim. Tanto que o ministro da educação teve o desplante de sair defendendo o direito de escolas públicas determinarem que os alunos rezem juntos o pai nosso antes do início das aulas. Na opinião do ministro, pertencente a uma das correntes mais conservadoras da igreja luterana dinamarquesa, os pais que não concordarem com a reza podem pedir a direção das escolas que seus filhos sejam dispensados da obrigação religiosa.

O ministro, o mesmo que anos atrás esteve à frente do endurecimento da legislação que trata dos migrantes na Dinamarca, prefere ignorar que as crianças de famílias ateias ou de outras religiões, que são minoria, vão naturalmente se sentir estigmatizadas.

Dias depois da declaração infeliz, o ministro voltou atrás e disse que foi mal entendido, que na verdade apenas quis dizer que as escolas devem ter o direito de decidir se seus alunos devem ou não rezar o pai nosso.

O dito ficou pior ou tão ruim quanto o desdito. No final das contas, as 15 escolas públicas dinamarquesas onde ainda se reza o pai nosso vão continuar tendo direito a fazê-lo.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Aterrissando

Não tem sido fácil voltar à rotina na Dinamarca, o que aliás tem me surpreendido já que deixar o Brasil não foi tão doloroso desta vez. Parti sem lágrimas, talvez porque sabendo que logo receberia a visita de uma de minhas irmãs e de que planejamos retornar em breve.

Mas dias depois da chegada as coisas ficaram um pouco confusas. Ainda não consegui me reorganizar para conseguir encaixar tudo o que quero fazer e tenho me sentido um pouco frustrada.

O clima não ajuda em nada. Acho que janeiro é o mês mais chato do ano por aqui. Os dias são desanimadores: curtos, escuros e, claro, muito frios.

O blog anda meio abandonado, ainda não consegui voltar a correr como estava fazendo antes de viajar para o Brasil, onde relaxei com a ginástica e alimentação. Continuo dormindo mal por causa das insuportáveis ondas de calor que invadem meu corpo várias vezes todas as noites.

A pequena boa notícia é que aparentemente a fisioterapia para tratar o linfedema surgido no braço esquerdo durante a radioterapia está começando a surtir efeito. Meu braço está menos inchado e raramente sinto algum desconforto por conta do problema. Em fevereiro deverei me submeter a sessões de fisioterapia mais frequentes e começar e começar a usar enfaixamento.

O aparecimento do linfedema me chateou um bocado, mas não me sinto estigmatizada por causa do problema. Mais me irrita do que entristece saber que terei que lidar com isso o resto da vida, mas também não é o fim do mundo. Vejo isso mais como um aborrecimento do que como uma deficiência e me nego a deixar de ter uma vida normal por causa disso.

A propósito, o que é mesmo uma vida normal?

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Gaza

Hoje, meu primeiro dia de trabalho depois das férias, foi impossível manter distância da tragédia que os ataques israelenses estão causando à população palestina em Gaza. Meu inbox estava repleto de e-mails desesperados de funcionários dos centros para tratamento de vítimas de tortura que são membros do IRCT, a organização onde trabalho. Covardemente, não olhei as fotos dos estragos causados pelos bombardeios israelenses que me enviaram, muitas delas mostrando o assassinato de crianças palestinas.

Nas férias no Brasil foi fácil me manter distante do horror da guerra em Gaza: era só evitar a televisão e a internet. Aqui esta guerra está mais próxima geograficamente e também do meu dia a dia no trabalho, onde preciso diariamente encarar tragédias como essa.

Retorno

De volta à Dinamarca depois de quase três semanas no Brasil. De volta à escuridão depois das quatro e meia da tarde, que só termina às oito da manhã. Na chegada, no sábado, deu vontade de voltar para o avião que nos trouxe da conexão em Lisboa. Eram três horas da tarde, mas parecia bem mais tarde por causa do céu completamente coberto por nuvens escuras e que pareciam estar a poucos metros de altura.