sábado, 25 de setembro de 2010

Sustos outonais

Todo ano, mais ou menos nesta época, início do outono europeu, começam as discussões no Parlamento dinamarquês sobre a divisão do orçamento público federal para o ano seguinte. E todo ano, desde que a direita assumiu o poder na Dinamarca, é tempo de eu me preocupar sobre o que vai sobrar de ruim para os estrangeiros dessas discussões.

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sábado, 18 de setembro de 2010

O povo mais amigável do mundo?

Por que se dar ao trabalho de escrever novamente sobre o estranho comportamento social dos dinamarqueses, como fiz no posting anterior? A razão foi uma entrevista com o roteirista e escritor dinamarquês Lars Andreas Pedersen, que acabou de lançar o livro “Fucking flink” (perdão aos mais sensíveis pelo palavrão, mas minha tradução é: “Amável do caralho”) que tem uma missão: transformar os dinamarqueses no povo mais amigável do mundo.

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quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Pequenas gentilezas

Anos atrás ouvi de um colega europeu, cuja nacionalidade nem me lembro mais, uma opinião pouco lisonjeira sobre nós brasileiros. As palavras usadas ficaram perdidas no tempo, mas o significado do comentário foi mais ou menos esse:

”- Brasileiro cumprimenta festivamente todo mundo, sai convidando quem encontra pelo caminho para jantar mas depois some e nunca mais aparece. Se um brasileiro diz que é seu amigo do peito, o melhor é não levar muito a sério.

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quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Sete de setembro

Brazilian flag in BRASÍLIA, Brazil (6)
Image by JorgeBrazil via Flickr
Acho que a primeira vez que me senti como brasileira deve ter sido pouco tempo depois de 1970 e a razão não foi a terceira conquista da Copa do Mundo pelo Brasil naquele ano. Me lembro quando meus pais levaram a minha irmã e eu da cidade satélite de Taguatinga, onde morávamos, ao Plano Piloto da capital do Brasil para assistir à parada militar. Era 7 de setembro, data nacional do Brasil, quando nas escolas as crianças ouviam que deveriam prestar homenagem à grandeza do país que eu mesma estava começando a amar.

Há duas imagens do meu primeiro desfile militar que ficaram na minha memória: as bandeiras e um rosto. O governo distribuía milhares de bandeirinhas do Brasil para o público do desfile. Como toda criança, eu adorava sair andando com uma ou várias daquelas bandeirinhas verdes e amarelas e sempre tentava ganhar o maior número possível delas.

O rosto era o do presidente brasileiro na época – o general Emílio Garrastazu Médici. Não sei se eu realmente me lembro disso ou se eu criei na minha mente a impressão de que eu vi nitidamente o rosto do general naquele 7 de setembro. Se eu tivesse perguntado ao meu pai, ele provavelmente teria dito que aquela imagem só existia na minha imaginação, já que o público não tinha autorização para chegar perto do presidente. Resultado ou não da minha imaginação, a face do presidente Médici ficou na minha memória associada ao 7 de setembro, uma ligação que de certa forma viria a destruir o meu prazer de celebrar o Dia da Independência do Brasil.

Como criança, eu via o rosto do presidente Médici como a de um homem sério e merecedor de respeito que me inspirava confiança e sensação de segurança. Quando seu mandato terminou, em 1974, eu quase me senti triste porque o novo presidente, o também general Ernesto Geisel, parecia sempre tão severo, rígido e com um ar ressentido.

Mas alguns anos mais tarde eu descobriria que naquele 7 de setembro, enquanto minha família e eu estávamos ali acenando para o presidente ao levantar nossas bandeirinhas sob o céu sem nuvens de Brasília, havia outros brasileiros que não tinham nada o que celebrar. A presidência de Emílio Garrastazu Médici correspondeu ao período mais repressivo da ditadura militar que dominou o Brasil de 1964 a 1985. Seu governo (1970-1974) foi responsável pela tortura de milhares de pessoas, pelo desaparecimento e assassinato de militantes de esquerda, pela censura da imprensa e pela revogação dos direitos políticos dos que ousavam contestar o regime militar. Estima-se que mais de 10 mil brasileiros foram obrigados a deixar o país e procurar exílio para fugir da repressão.

Quando, na minha adolescência, comecei a descobrir o que meu país havia passado durante o governo Médici, eu me senti ludibriada e com raiva. Eu não consegui aceitar que alguém que tinha a missão de proteger os cidadãos de seu país, na verdade estava dando ordens ou, no mínimo, permitindo que esses cidadãos fossem perseguidos, torturados e até mesmo assassinados.

Somente pouco tempo atrás, depois de trabalhar alguns anos no Conselho Internacional para Reabilitação de Vítimas de Tortura (International Rehabilitation Council for Torture Victims - IRCT), eu comecei a me perguntar se aquela desapontamento de criança teria tido alguma coisa a ver com as minhas escolhas profissionais. Talvez eu tivesse de qualquer maneira escolhido trabalhar para uma organização de direitos humanos mas eu acredito que aquele mito infantil desfeito de alguma maneira me direcionou a sempre tentar trabalhar para que mentiras, tortura e repressão nunca mais desonrem o país onde nasci e que eu amo.

PS: A versão original deste publicada em inglês no site do IRCT.
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terça-feira, 7 de setembro de 2010

Mais um capítulo

Céu de outonoHoje está fazendo cinco dias que voltei do hospital, onde fui internada para a segunda e última cirurgia plástica para reconstrução da minha mama. Tudo correu bem e mais uma vez me impressionei com o profissionalismo e amabilidade da equipe médica, especialmente dos enfermeiros, que me atendeu.

Gostaria de considerar essa cirurgia como o capítulo final do meu tratamento contra o câncer de mama e, se eu considerar apenas internações hospitalares, acho mesmo que posso acreditar que isso é verdade. Mas sei que briga ainda não terminou. Embora minha doença não tenha sido associada a meu estilo de vida, considerado saudável, depois do câncer de mama me tornei ainda mais atenta a fatores que comprovadamente ou não podem influenciar o reaparecimento de células cancerosas.

Acho que consegui melhorar minha alimentação e condicionamento físico, dois fatores que, de acordo com estudos científicos, poderiam estar relacionados à ocorrência de câncer. Mas preciso aprender a relaxar mais e dormir mais para evitar o stress, outro fator possivelmente relacionado ao câncer.
Preciso aprender a desistir de projetos e, ao mesmo tempo, ser mais objetiva nos projetos que decidir levar adiante. Preciso ser menos exigente comigo mesma, planejar e organizar menos o que pouco ou nada importa, e concentrar energia e tempo no que me faz feliz. É, ainda há muito a aprender.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

O mundo lá fora

Vaso com tulipasHá engarrafamentos no mundo lá fora. Posso vê-los, bem em frente e abaixo da minha janela. Há também ciclistas velozes que lá longe passam em fila indiana. Bem sei que não pedalam resignadamente enfileirados. Ao contrário lutam e disputam espaço na ciclovia.

Há muitas torres no mundo lá fora. Meus olhos míopes me dizem que são pelo menos 23 torres, de todos os tamanhos e idades. Bem sei que há mais, muitas mais nesta cidade que alguns apelidaram de cidade das torres.

O sol às vezes brilha no mundo lá fora, mas o casaco daquela senhora que passa me diz que as temperaturas outonais já chegaram.

Lá fora há velocidade, não há tempo a perder.
Aqui, o tempo não é veloz nem vagaroso. É marcado pela dor que chega periodicamente, sempre que os efeitos dos analgésicos estão para acabar e, principalmente, pelos passos no corredor. Os passos no corredor podem ser apressados ou lentos. São os passos das dezenas de pessoas em roupas brancas que vão e vêm. Pessoas gentis e prestativas, mas fora do meu alcance.

Há também os outros, ainda mais distantes, se movendo pesadamente em robes listrados, floridos e coloridos, e que se reservam o direito de se manter enclausurados e silenciosos.
Não sei se tenho saudade do mundo lá fora, embora o mundo aqui seja paralisante. É um mundo com muitas horas solitárias, interrompidas por visitas conversadeiras e animadas.

O mais que faço é esperar. Há aqui muitas esperas, algumas longas, outras nem tanto. Se está sempre a esperar alguém ou algo e nada se pode apressar: o sangue que pinga, a rápida consulta do médico, a comida servida na bandeja, o remédio para levar a dor, a visita que está para chegar.

Estou, estacionada, a esperar, sem poder ir ao encontro da visita, atrás do médico, preparar minha comida, buscar meu remédio nem estancar a ferida.

Tudo tem tempos que não controlo. Estranhamente, isso não me aflige. Talvez ainda sofrendo os efeitos da anestesia, me conformo com as esperas.

Mas, na hora de talvez sair para o mundo lá fora, as horas resolvem se atrasar ainda mais, se rastejam numa demora exasperante. Me impaciento com a médica que já deveria ter vindo mas nunca chega. Sera que se esqueceu de fazer a ronda matutina?

O mundo aqui neste quarto de hospital é um grande teste para a minha paciência.