sábado, 15 de agosto de 2009

Remoção

Há períodos em que evito ler jornais ou assistir a noticiários dinamarqueses para evitar me aborrecer. Estou num desses períodos. Desta vez, a razão para possível aborrecimento é a expulsão de um grupo de iraquianos de uma igreja de Copenhague, acontecida na madrugada da última quinta-feira .

Os iraquianos tinham ocupado a igreja havia quase três meses (ver Mahabat e seus dois meninos ) e nesse período eu vinha torcendo e quase acreditando, do fundo do meu otimismo ou ingenuidade, que algo aconteceria para que pelos menos alguns fossem autorizados a continuar vivendo na Dinamarca. Mas me esqueci em que país estava e cheguei a ficar chocada quando soube que a polícia havia invadido a igreja Brorsons no meio da madrugada e prendido todos os 17 homens que estavam lá. Nenhuma mulher ou criança foi presa, mas todos tiveram de abandonar a igreja.

Pelos relatos que li e ouvi, inclusive a do pastor da igreja, a remoção dos iraquianos foi dramática. Quando a polícia entrou na igreja, todos os iraquianos se juntaram no altar. Um homem quebrou uma garrafa e ameaçou se cortar, um outro subiu no órgão da igreja e ameaçou pular, mulheres gritavam de desespero enquanto crianças choravam de medo. A invasão aconteceu por volta da uma da madrugada e, por mais que leio que tudo foi feito dentro da lei, nada me convence que não foi mais um da série de atos desumanos da política para refugiados adotada pelo atual governo dinamarquês (mais sobre o assunto em inglês e cenas da ação policial contra um grupo de demonstrantes dinamarqueses que tentou bloquear a passagem do ônibus da polícia que levava os iraquianos).

No dia seguinte à remoção, 15.000 a 25.000 pessoas (como sempre acontece em demonstrações de rua, a quantidade de participantes depende da fonte da informação) se reuniram em frente à igreja para protestar contra a ação da polícia e pedir asilo aos iraquianos. Quando soube da manifestação até fiquei animada. Quem sabe a ação policial não acaba criando uma comoção nacional de apoios aos iraquianos que assim podem afinal conseguir o apoio político necessário para que seus pedidos de asilo sejam reavaliados? pensei novamente do fundo da minha alma otimista ou ingênua. Que nada. No dia seguinte ao da demonstração, pesquisas de opinião pública mostraram que três quintos da população dinamarquesa apoiaram a ação policial.

Conclusão: parei de ler jornais ou páginas da internet da Dinamarca para não morrer de raiva. Até hoje, é claro, quando tive de me atualizar para escrever o blog. Aí deparei com mais uma, duas, não, três histórias de, com o perdão da expressão, cortar o coração: as do Wissam, do Hassan e da Bisian.

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