sexta-feira, 9 de maio de 2008

Socos

Essa história de enfrentar a realidade nem sempre é o meu forte. Quando soube que aquele caroço no meu seio esquerdo era maligno, tentei de todas as maneiras dizer a mim mesma que não devia ser tão mal assim, que era só um carocinho de nada que uma cirugia simples resolveria.

Receber uma notícias dessas numa outra língua ajuda a fugir dos socos de realidade. Antes de eu saber o que tinha, ao perguntar à médica que fazia uma ultrassonografia dos meios seios o que ela tinha encontrado, a resposta, em dinamarquês, foi clara: “Esse caroço é maligno”. Fiquei especulando se a palavra "maligno" em dinamarquês tem o significado horrível que tem em português. Mas, embora não tivesse usado a palavra câncer, ela não deixou margem para dúvidas: eu teria de ser operada e a dimensão do problema seria conhecida depois do resultado de uma biópsia e outros exames.

Naquele dia eu havia ido sozinho ao hospital. Saí da sala onde foi feito o exame e entrei no primeiro banheiro que achei. Chorei sozinha, e muito.

Até então minha vida havia sido povoada por várias dúvidas e algumas poucas certezas. Naquele banheiro, quase tudo cedeu lugar a uma interrogação vital “vou sobreviver a essa doença?”. Essa incerteza imensa e sufocante veio junto com outra ainda mais terrível: “vou sobreviver para ver minha filha crescer?”.

Todos com quem converso sobre minha doença sempre tentam me encher de otimismo e confiança. “Hoje em dia os médicos têm controle sobre isso, ninguém morre mais de câncer de mama, a medicina avançou muito nessa área...” Ouço e concordo, mas aquele diabinho que vive espetando meu anjinho abana a cabeça e diz: “Blá, blá, blá. Num ano, mais de 1300 mulheres morrem de câncer de mama só na Dinamarca, um paisinho com cinco milhões de habitantes”.

Fujo das estatísticas e evito me fazer aquelas perguntas. Elas me acompanham, mas prefiro não encará-las. Elas me entristecem, como agora, e me sugam energia, ânimo e alegria. Tento substituí-las com uma certeza: não vai ser essa porcaria de doença que vai me matar. Ainda tenho muito coisa para fazer e a mais importante delas é ver minha filha crescer.

2 comentários:

Márcia Marmori disse...

É isso aí!!!! Pode ter certeza!
Não é esssa porcaria de doença que vai te matar.
Beijossssssssssssssss

deoblog disse...

Oi, Marga...
Ficamos muito felizes pela sua força. Você nos faz fortes também. Te gostamos. Deolinda