segunda-feira, 18 de maio de 2009

A pequena Guantánamo no quintal da Dinamarca

Há pessoas vivendo em condições muito mais desumanas pelo mundo afora do que os refugiados que vivem nos abrigos da Dinamarca. Em alguns casos não há muito que individualmente possamos fazer para mudar essas condições. Mas a situação muda de figura quando se é confrontado com o fato de, perto da sua rotinazinha confortável, viverem pessoas, inclusive crianças, cujas vidas estão sendo destruídas por anos e anos de confinamento num abrigo para refugiados.

Sandholm,que fica a apenas 27 km daqui de casa, é um dos abrigos para refugiados na Dinamarca onde 137 crianças tem vivido por mais de um ano. Um estudo da Cruz Vermelha da Dinamarca mostrou que a experiência de viver mais de um ano nesses abrigos é traumática para essas crianças, que dão sinais de problemas psíquicos e sofrem com os traumas sofridos por suas famílias. Um outro estudo, da Anistia Internacional, revelou que quase metade dos que tentam asilo na Dinamarca, sofreram tortura.

A indiferença com que a sociedade dinamarquesa lida com a situação dessas crianças me choca. É impressionante ver como uma sociedade que cuida tanto de suas próprias crianças prefere ignorar completamente o destino das crianças nos abrigos de refugiados. Essa indiferença é ainda mais difícil de compreender porque acontece num dos países mais ricos do mundo que acabou de passar por um período de vacas gordas na área econômica.

Há felizmente exceções a essa indiferença e a mais antiga é a de um grupo que se chama “Avós a favor de asilo (Bedsteforældre for asyl) que desde 2007 faz todo santo domingo demonstrações pacíficas de protesto contra a política para refugiados em frente aos abrigos. Uma outra exceção foi a de um grupo de jovens que no ano passado tentou fechar simbolicamente o abrigo de Sandholm. A manifestação foi abortada pela polícia e criticada por muitos pelo caráter “violento”.

Mais recentemente, um grupo liderado pela jurista Eva Smith, Crianças refugiadas fora dos abrigos agora (Asylbørneneudnu.dk) , está começando um movimento mais amplo para pressionar o governo dinamarquês a tirar as crianças dos abrigos e proporcionar a elas e suas famílias uma vida normal e tratamento médico para que possam superar os traumas físicos e psíquicos que viveram. A meta do grupo é conseguir 500.000 assinaturas, que corresponderiam a mais ou menos dez por cento da população dinamarquesa.

Segundo Eva Smith, a situação das crianças refugiadas é a “pequena Guantánamo no quintal” dos dinamarqueses. Numa entrevista ao jornal dinamarquês Politiken, Eva diz que, daqui a 30 anos, as gerações futuras vão olhar para trás e se perguntar: “Por que nossos pais não fizeram nada para ajudar essas crianças? Eles sabiam o que estava acontecendo e não fizeram nada”. Tenho medo de imaginar o que minha filha vai pensar de mim.

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