domingo, 27 de abril de 2008

Fugindo da raia

Ontem o Henrik e eu fomos à festa de aniversário de trinta anos da prima dele. Na Dinamarca, quando falam em festa, geralmente querem dizer um jantar que dura horas, onde você fica sentado ao lado ou em frente a pessoas que você nunca viu e pelas quais você não se interessa ou que não se interessam por você. Depois de uma refeição interrompida por discursos, canções e brincadeiras nem sempre tão divertidas, às vezes rola uma dançazinha animada por um organista ou um conjuntinho musical que deixam muito a desejar.

Felizmente, a festa de ontem não seria do tipo tradicional. Foi anunciada como uma festa onde rolaria muita música e nada de jantar, apenas bebidas e tira-gostos. Oba, diria uma brasileira saudosa de uma festa daquelas. Mas aí vale outro esclarecimento. Na Dinamarca, quando anunciam uma festa como essa, entenda-se bebedeira coletiva. Claro que há exceções, mas de modo geral o que acontece é que o povo se reúne para beber tresloucadamente e, dançar que é bom, fica para segundo plano.

Mas decidimos ir assim mesmo e tudo ia bem até estacionarmos o carro ao lado da casa da aniversariante. A idéia de encarar uma casa cheia de gente estranha e festiva de repente me apavorou. Me acovardei diante da perspectiva das pessoas me olharem tentando adivinhar o que eu, com aquele pano na cabeça, seria: extravagante, religiosa ou doente? Tentei controlar as lágrimas, inclusive para evitar borrar o rímel caríssimo que havia comprado no dia anterior, mas foi inútil. Os gases inchando minha barriga, o cansaço e um incômodo na área da cirurgia não ajudavam em nada a levanter meu ânimo.

Depois de mais uns minutos no carro, outros convidados da festa passando por nós, o Henrik deu a partida e fomos a um café, onde bebemos um chá e me acalmei. Por ele, poderíamos voltar para casa. Insisti que deveríamos voltar e encarar a turba. Afinal, tínhamos comprado presente, argumentei com meu raciocínio de quem não admite desperdícios.

Fomos. As pessoas podem até ter ficado na dúvida sobre se eu era extravagante, religiosa ou doente, mas foram suficientemente discretas para me tratar como se não estivessem notando o pano na cabeça.

A festa foi aquilo mesmo que eu previa, uma bebedeira coletiva. Mas, à margem dela, lá pelas tantas me vi discutindo com um casal de pedagogos e o Henrik evolução natural e o aparente descompasso entre o desenvolvimento físico e mental dos seres humanos. E olha que eu não tinha bebido nenhuma gota de álcool.

2 comentários:

Márcia Marmori disse...

É isso aí minha irmã!!!!
Estou gostando de ver!!!
Massa véi!!!

Beijos miiiiiiiiiiiiiiiiil
Te amoooooooooooooooo
Márcia

deoblog disse...

Oi, Marga, gostei de ler as suas palavras. Isso, com certeza vai ajudar a muitas outras pessoas que passam pelo mesmo tipo de tratamento. Força. Te amamos. Deolinda