sexta-feira, 25 de abril de 2008

Peruca

Três dias depois do meu primeiro tratamento quimioterápico, fui a uma perucaria e falei à vendodora que precisava de uma peruca. A senhora me olhou e disse: “Ah, meu Deus, onde é que vou arranjar uma peruca para substituir esse cabelo todo?” E continuou: “Você tem o tipo de cabelo que sempre sonhei ter: cheio, encaracolado”. Eu ficaria envaidecida se já não tivesse ouvido isso inúmeras vezes aqui na Dinamarca, onde os cabelos escuros e cacheados fazem sucesso, ao contrário do Brasil superpovoado de falsos louros alisados.

Agradeci os elogios da vendedora, aliás muito gentil e simpática, e lhe pedi que tentasse alguma peruca curta e escura. Ela veio com algumas e minha mãe e meu marido, que foram comigo à loja, concordaram que uma delas tinha ficado até legal. Embora o resultado tenha ficado melhor do que eu esperava, ainda me achei ridícula com aquela coisa.

Mas como a coisa seria paga pelo hospital onde estou sendo tratada, decidi levá-la. Afinal não sabia como me sentiria depois de perder o cabelo e, quem sabe, até me animaria a usar a coisa.

Hoje, seis dias depois de raspar a cabeça, ainda não me animei a usar aquela coisa. A Gabriela também não gostou. Olhou e disse: “Feio, mãe, feio”. Apesar da opinião desfavorável, de manhã, antes de ir para creche, quando lhe sugeri que usasse a peruca, ela não se avexou. Enfiou-a na cabeça e se divertiu a valer, o que, claro, não perdi a chance de registrar.

Um comentário:

Robson disse...

Ufa, mulher corajosa você. Tuas linhas tem um beleza duramente sincera. Eu sou pateticamente frouxo, e fico completamente emudecido ao ler, os dedos ainda podem falar, seguram um pouco mais que o peito. Tenho muito carinho por vocês três. Tenho com você uma cumplicidade telefônica, de reclamacoes mútuas deste mundo dinamarques chato que nós bem aguentamos.
Quero que você supere tudo isto, que acorde do pesadelo, e veja que ele já passou.
Com carinho
Robson