terça-feira, 30 de novembro de 2010
Biscoitos da discórdia
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terça-feira, 23 de novembro de 2010
Flores sem nome
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terça-feira, 9 de novembro de 2010
Só para os ricos e letrados
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
Xenofobia parabólica
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terça-feira, 2 de novembro de 2010
Mudança de estação
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sábado, 30 de outubro de 2010
Pequena homenagem
Não estão dizendo que quem vota na Dilma é pobre? Portanto vou me manter fiel à minha ascendência social e homenagear minhas saudosas avós com meu voto.
terça-feira, 26 de outubro de 2010
Holofotes
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
Pulando do muro
Depois veio o artigo do Jorge Furtado "Dez falsos motivos para não votar na Dilma”, publicado em julho, mas que só vi na semana passada.
Por conta do trabalho, entrevistei uma brasileira que, durante a ditadura, assim como a Dilma Roussef, por conta de sua militância, foi presa e torturada. O relato quase me emocionou muito e me fez pensar na injustica que se faz a pessoas como elas que tiveram a coragem de reagir e resistir à ditadura militar. Me peguei pensando se, numa situação semelhante, eu teria a mesma coragem que elas tiveram.
Aí não deu mais para ficar em cima do muro vendo a banda passar e acabei acrescentando um twibbon no meu facebook. E Aí não deu mais para marinar em cima do muro e acabei acrescentando um twibon no meu facebook. E, para fechar com chave de ouro, uma ilustracão que achei no http://josecarloslima4.blogspot.com/2010/08/viral-dilma-pop.html e do http://faltandoteclas.wordpress.com/2010/08/15/campanha-dilma-cortesia-revista-epoca/
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
Esconderijo
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sábado, 2 de outubro de 2010
Imprensa livre
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sábado, 25 de setembro de 2010
Sustos outonais
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sábado, 18 de setembro de 2010
O povo mais amigável do mundo?
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quinta-feira, 16 de setembro de 2010
Pequenas gentilezas
”- Brasileiro cumprimenta festivamente todo mundo, sai convidando quem encontra pelo caminho para jantar mas depois some e nunca mais aparece. Se um brasileiro diz que é seu amigo do peito, o melhor é não levar muito a sério.
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quinta-feira, 9 de setembro de 2010
Sete de setembro
Há duas imagens do meu primeiro desfile militar que ficaram na minha memória: as bandeiras e um rosto. O governo distribuía milhares de bandeirinhas do Brasil para o público do desfile. Como toda criança, eu adorava sair andando com uma ou várias daquelas bandeirinhas verdes e amarelas e sempre tentava ganhar o maior número possível delas.
O rosto era o do presidente brasileiro na época – o general Emílio Garrastazu Médici. Não sei se eu realmente me lembro disso ou se eu criei na minha mente a impressão de que eu vi nitidamente o rosto do general naquele 7 de setembro. Se eu tivesse perguntado ao meu pai, ele provavelmente teria dito que aquela imagem só existia na minha imaginação, já que o público não tinha autorização para chegar perto do presidente. Resultado ou não da minha imaginação, a face do presidente Médici ficou na minha memória associada ao 7 de setembro, uma ligação que de certa forma viria a destruir o meu prazer de celebrar o Dia da Independência do Brasil.
Como criança, eu via o rosto do presidente Médici como a de um homem sério e merecedor de respeito que me inspirava confiança e sensação de segurança. Quando seu mandato terminou, em 1974, eu quase me senti triste porque o novo presidente, o também general Ernesto Geisel, parecia sempre tão severo, rígido e com um ar ressentido.
Mas alguns anos mais tarde eu descobriria que naquele 7 de setembro, enquanto minha família e eu estávamos ali acenando para o presidente ao levantar nossas bandeirinhas sob o céu sem nuvens de Brasília, havia outros brasileiros que não tinham nada o que celebrar. A presidência de Emílio Garrastazu Médici correspondeu ao período mais repressivo da ditadura militar que dominou o Brasil de 1964 a 1985. Seu governo (1970-1974) foi responsável pela tortura de milhares de pessoas, pelo desaparecimento e assassinato de militantes de esquerda, pela censura da imprensa e pela revogação dos direitos políticos dos que ousavam contestar o regime militar. Estima-se que mais de 10 mil brasileiros foram obrigados a deixar o país e procurar exílio para fugir da repressão.
Quando, na minha adolescência, comecei a descobrir o que meu país havia passado durante o governo Médici, eu me senti ludibriada e com raiva. Eu não consegui aceitar que alguém que tinha a missão de proteger os cidadãos de seu país, na verdade estava dando ordens ou, no mínimo, permitindo que esses cidadãos fossem perseguidos, torturados e até mesmo assassinados.
Somente pouco tempo atrás, depois de trabalhar alguns anos no Conselho Internacional para Reabilitação de Vítimas de Tortura (International Rehabilitation Council for Torture Victims - IRCT), eu comecei a me perguntar se aquela desapontamento de criança teria tido alguma coisa a ver com as minhas escolhas profissionais. Talvez eu tivesse de qualquer maneira escolhido trabalhar para uma organização de direitos humanos mas eu acredito que aquele mito infantil desfeito de alguma maneira me direcionou a sempre tentar trabalhar para que mentiras, tortura e repressão nunca mais desonrem o país onde nasci e que eu amo.
PS: A versão original deste publicada em inglês no site do IRCT.
terça-feira, 7 de setembro de 2010
Mais um capítulo
Gostaria de considerar essa cirurgia como o capítulo final do meu tratamento contra o câncer de mama e, se eu considerar apenas internações hospitalares, acho mesmo que posso acreditar que isso é verdade. Mas sei que briga ainda não terminou. Embora minha doença não tenha sido associada a meu estilo de vida, considerado saudável, depois do câncer de mama me tornei ainda mais atenta a fatores que comprovadamente ou não podem influenciar o reaparecimento de células cancerosas.
Acho que consegui melhorar minha alimentação e condicionamento físico, dois fatores que, de acordo com estudos científicos, poderiam estar relacionados à ocorrência de câncer. Mas preciso aprender a relaxar mais e dormir mais para evitar o stress, outro fator possivelmente relacionado ao câncer.
Preciso aprender a desistir de projetos e, ao mesmo tempo, ser mais objetiva nos projetos que decidir levar adiante. Preciso ser menos exigente comigo mesma, planejar e organizar menos o que pouco ou nada importa, e concentrar energia e tempo no que me faz feliz. É, ainda há muito a aprender.
segunda-feira, 6 de setembro de 2010
O mundo lá fora
Há muitas torres no mundo lá fora. Meus olhos míopes me dizem que são pelo menos 23 torres, de todos os tamanhos e idades. Bem sei que há mais, muitas mais nesta cidade que alguns apelidaram de cidade das torres.
O sol às vezes brilha no mundo lá fora, mas o casaco daquela senhora que passa me diz que as temperaturas outonais já chegaram.
Lá fora há velocidade, não há tempo a perder.
Aqui, o tempo não é veloz nem vagaroso. É marcado pela dor que chega periodicamente, sempre que os efeitos dos analgésicos estão para acabar e, principalmente, pelos passos no corredor. Os passos no corredor podem ser apressados ou lentos. São os passos das dezenas de pessoas em roupas brancas que vão e vêm. Pessoas gentis e prestativas, mas fora do meu alcance.
Há também os outros, ainda mais distantes, se movendo pesadamente em robes listrados, floridos e coloridos, e que se reservam o direito de se manter enclausurados e silenciosos.
Não sei se tenho saudade do mundo lá fora, embora o mundo aqui seja paralisante. É um mundo com muitas horas solitárias, interrompidas por visitas conversadeiras e animadas.
O mais que faço é esperar. Há aqui muitas esperas, algumas longas, outras nem tanto. Se está sempre a esperar alguém ou algo e nada se pode apressar: o sangue que pinga, a rápida consulta do médico, a comida servida na bandeja, o remédio para levar a dor, a visita que está para chegar.
Estou, estacionada, a esperar, sem poder ir ao encontro da visita, atrás do médico, preparar minha comida, buscar meu remédio nem estancar a ferida.
Tudo tem tempos que não controlo. Estranhamente, isso não me aflige. Talvez ainda sofrendo os efeitos da anestesia, me conformo com as esperas.
Mas, na hora de talvez sair para o mundo lá fora, as horas resolvem se atrasar ainda mais, se rastejam numa demora exasperante. Me impaciento com a médica que já deveria ter vindo mas nunca chega. Sera que se esqueceu de fazer a ronda matutina?
O mundo aqui neste quarto de hospital é um grande teste para a minha paciência.
terça-feira, 31 de agosto de 2010
Feijão cozido
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quarta-feira, 25 de agosto de 2010
Caça ao macacão
Tentei ignorar, resistir, negar e fingir que não era comigo, mas agora não dá mais. O verão dinamarquês 2010 está acabando. A temperatura dos últimos dias, de 15 a 18 graus centígrados, mais uma ventania sem fim me obrigaram a encarar o fato de que, mais uma vez, como tem acontecido há 13 anos, o inverno vai voltar.
É duro aceitar mas é claro que vai voltar, eu sei. Não há mudança climática, aquecimento global ou o que quer que seja, que faça o inverno daqui se esquecer de aparecer de vez em quando. Mas eu todo ano não desisto e insisto na esperança de que, quem sabe, talvez um dia algum fenômeno estranho e inesperado aconteça e nos proteja daqueles meses frios, escuros e ventosos que chamam de inverno.
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domingo, 22 de agosto de 2010
Mudanças no Blogadona
Estarei colocando tais textos sob a categoria ”Terceira”.
Os textos completos só serão publicados no Wordpress, enquanto o Blogspot terá um texto introdutório ligado ao texto integral.
O primeiro texto da série ”Terceira” estará num dos próximos ”postings” do Blogadona. Espero que curtam.
Descoberta no quintal
Então, na verdade, o que temos no jardim é a tal da “solbær” e, como meu vocabulário de frutas em dinamarquês não é dos mais ricos, lá fui eu ao Google translate e depois ao Aurélio para conferir o que significa “solbær” em português. E aí veio a surpresa. “Solbær” é a velha, conhecida e familiar groselha. Descobrir que “solbær” é groselha me deu uma alegria de criança porque me remeteu aos meus tempos de menina quando groselha era o nome de uma fruta exótica, de um país distante, provavelmente de clima frio, da qual se fazia um xarope avermelhado usado para preparar refrescos deliciosos que meus pais sempre compravam para alegrar nossas tardes de domingo.
Eu adorava aqueles refrescos, embora desconfie que pouco ou nada tinham da fruta groselha e que provavelmente eram o resultado de uma mistura de açúcar e corantes artificiais. Corantes, aliás, que davam ao refresco aquela cor maravilhosa, um vermelho roseado que tingia nossas línguas. Deliciosos também eram os picolés de groselha que praticamente batiam à nossa porta trazidos pelos vendedores ambulantes.
Já há anos que de vez em quando bebo refresco de “solbær” aqui na Dinamarca sem saber que na verdade eu estava mesmo era saboreando refresco de groselha. Agora, depois de feita a tradução, posso comemorar a sorte de ter duas groselheiras no quintal.
P.S.: Passeando pela internet, descobri que o Ivan Lessa também é fã da groselha
terça-feira, 17 de agosto de 2010
Brasília irreconhecível
Quando falo de uma Brasília irreconhecível não me refiro apenas à Brasília planejada dos cartões postais, aquela do Plano Piloto em forma de avião, onde estão as belas sedes do legislativo, executivo e judiciário. A minha Brasília é aquela que inadvertidamente escapuliu dos desenhos dos urbanistas e arquitetos que planejaram a cidade e que também inclui as chamadas cidades satélites e os remanescentes de áreas naturais que sobreviveram às quatro primeiras décadas da cidade mas que agora estão sucumbindo à explosão populacional.
Há pessoas que acham que tanta mudança é uma consequência inevitável do desenvolvimento e crescimento da cidade, mas eu não consigo pensar da mesma forma. Quando passo pela estrada que liga Taguatinga, onde minha mãe mora, ao Plano Piloto, onde estão a sede do executivo, do legislativo e do judiciário do país, não consigo deixar de me assustar com mudanças na paisagem que para mim são aberrações da falta de planejamento e do oportunismo político. De um lado está o bairro hoje chamado Vicente Pires onde antes havia uma colônia agrícola com 358 chácaras e áreas com vegetação natural do cerrado. Em 1997, os chacareiros começaram a parcelas seus terrenos e vender lotes para residência. O governo não freou a venda ilegal e o resultado é que 13 anos depois o setor tem 70.000 habitantes. Toda a área está tomada por condomínios particulares e, depois de anos de ocupação irregular do solo, o então governador José Roberto Arruda resolveu criar oficialmente o bairro Vicente Pires. Em outras palavras, premiou aqueles que ocuparam burlaram as leis para conseguir um lugar para morar. Lá, segundo uma reportagem do Correio Braziliense há 12,000 obras irregulares e “cerca de 500 casas estão à beira de córregos ou em áreas com solo de vereda”. Ouvi o relato de uma pessoa cujo vizinho tem uma mina de água brotando nos fundos do quintal dele.
Do outro lado da estrada está Águas Claras, um bairro que me faz lembrar São Paulo tantos são os espigões que preenchem mais e mais a paisagem. Inicialmente previsto para abrigar prédios de 12 a 16 andares, o bairro teve seu planejamento modificado e o limite na altura dos prédios não existe mais. Resultado, a população do lugar, que deveria ser de no máximo 160.000 habitantes, chegou a 110.000 habitantes em 2008. Segundo Paulo Zimbres, o arquiteto responsável pelo plano inicial do bairro numa entrevista à Casa Abril, hoje a população de Águas Claras estaria beirando os 300.000 habitantes. Como o bairro ainda não está totalmente concluído e tem quase 100 prédios em construção, o número de habitantes vai aumentar ainda mais.
É natural que Brasília cresça. Seria injusto tentar congelar seu crescimento. A cidade não é uma ilha e, se fosse, seria “invadida” por mar por brasileiros em busca de uma vida melhor e direitos básicos como saúde e educação. Mas a forma como o crescimento da cidade está acontecendo me parece descabida, sem qualquer consideração ambiental ou preocupação com a qualidade de vida dos moradores no futuro.
Temo a profecia do respeitado urbanista e professor Aldo Paviano de que em alguns anos Brasília estará completamente coberta por ruas, calçadas e construções escondendo o belo solo vermelho do cerrado. Ele inclusive se questiona o por quê de se criar tantos bairros novos ao invés de se ampliar os bairros já existentes aproveitando a estrutura que eles já possuem.
Por isso tudo, comemorei sozinha aqui de Copenhague a impugnação da candidatura de Joaquim Roriz ao governo do Distrito Federal. Para mim, ele é um dos grandes responsáveis pelo processo de degradação de Brasília. Em seus quatro mandatos como governador, ele criou seis cidades-satélites e distribuiu milhares de lotes, estimulando ainda mais a migração desenfreada para o Distrito Federal e se esquecendo, por exemplo, de trabalhar pela geração de empregos e das consequências ambientais de sua administração irresponsável.
quarta-feira, 11 de agosto de 2010
Choque úmido
Com tanta umidade, é difícil manter a elegância depois de pedalar sete quilômetros para na chegada ao trabalho. O jeito tem sido ir direto para a toilette e me dar um ”banho de gato” para limpar o suor do rosto.
Mas não tenho do que reclamar. Adoro minhas pedaladas e elas são uma dos hábitos diários que mais sinto falta quando estou em férias no Brasil.
Dois meses de neratinib
domingo, 8 de agosto de 2010
De volta das férias
Smania via Flickr
Constatei que a nossa produção caseira de frutas vai ser bem mixuruca este ano: as poucas frutas dos dois pés de groselha sumiram, como já havia acontecido com as poucas dezenas de frutas da cerejeira. No ano que vem teremos de providenciar redes para cobrir as frutíferas e assim evitar que os pássaros façam banquetes com nossas frutas. Uma das macieiras, que produz uma das maçãs mais gostosas que já comi, também não está colaborando. Só tem uma frutinha aqui e outra acolá, o que vai decepcionar meus colegas de trabalho, já habituados a se deliciar com as maçãs que levo para o escritório todo fim de verão. A esperança é que a ameixeira, carregada de frutos ainda verdes, não decepcione. Mas para isso terei de ficar de olho nos insetos e pássaros de plantão.
Enquanto trabalhava com as roseiras e admirava as flores anuais alaranjadas, amarelas e brancas que esta semana dominam o canteiro nos fundos da casa, percebi o quanto havia sentido falta daquele jardim e me esqueci completamente do esmalte já descascado e das unhas sujas de terra.
quinta-feira, 15 de julho de 2010
Brincando com o design
O que a gente faz do que os outros fizeram com a gente?*
Vera Vital Brasil, que dedicou anos ao trabalho com vítimas de tortura, sabe por experiência própria do que está falando quando diz que o mal causado pela tortura nunca pode ser completamente superado.
Como estudante da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, no final dos anos 60, Vera participou ativamente do movimento estudantil universitário, um dos grandes focos de resistência à ditadura militar no Brasil (1964-1985). Devido a sua militância, em dezembro de 1969, Vera foi presa e torturada nas dependências do temido DOI-CODI da Rua Barão de Mesquita, no Rio de Janeiro (Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna.
Depois de passar três meses na prisão, Vera deixou o Rio de Janeiro e se exilou no Chile. O exílio durou seis anos e, ao voltar ao Brasil em 1976, Vera estava decidida a mudar o rumo de sua carreira para tentar transformar em algo bom o mal que lhe haviam causado.
“O que a gente faz com o que os outros fizeram à gente? Interiorizamos essa experiência dilacerante ou lutamos para que isso nunca mais aconteça novamente? Eu escolhi a segunda alternativa”, ela diz ao explicar o porquê de sua escolha pela psicologia e trabalho clínico e e do envolvimento com vítimas de tortura.
Trabalho voluntário
Enquanto trabalhava como professora de química e fazia o curso de psicologia, Vera participou como voluntária de programas de defesa dos direitos humanos e de assistência à saúde a moradores de favelas do Rio de Janeiro. Anos mais tarde, também como voluntária, se envolveu num programa de apoio psicológico a pessoas infectadas com o vírus da Aids.
Era apenas o começo de uma longa trajetória na defesa dos direitos humanos que a levou, em 1982, a se juntar a outros ex-presos políticos do Rio de Janeiro na reação contra a nomeação para cargos públicos de pessoas envolvidas com a prática da tortura durante a ditadura. Essa iniciativa acabou levando um grupo de ex-presos políticos sobreviventes de tortura e familiares de mortos e desaparecidos a fundar, em 1985, o Grupo Tortura Nunca Mais Rio de Janeiro (GTNM-RJ). O grupo nasceu com a missão de lutar pela defesa dos direitos humanos, incluindo o esclarecimento das mortes e desaparecimentos de militantes políticos, o resgate da memória, a luta contra a impunidade e pela justiça, além da denúncia de torturas e todas as formas de violência.
O GTNM-RJ surgiu num momento em que a memória das mortes, desaparecimentos e tortura ocorridos durante a ditadura militar no Brasil corria o risco de ser esquecida: imperava o silêncio.. “Experiências profundamente dolorosas estavam ficando no baú do esquecimento e o Estado tinha uma política de silenciar sobre estes acontecimentos”, ela conta.
O fato de sobreviventes de tortura terem dificuldade em falar sobre suas experiências por sentirem-se ameaçados também contribuiu para que muitos crimes estivessem caindo no esquecimento. “Alguns pacientes chegavam a se culpar pelo que lhes havia acontecido. Achavam, por exemplo, que não haviam sido suficientemente ágeis para fugir da repressão e atribuíam a si um erro. Mas foi o o Estado quem cometeu crimes ao matar, torturar, fazer desaparecer os corpos dos opositores e dizimar as forças de oposição ao regime.”
Em 1991, com recursos financeiros do Fundo Voluntário das Nações Unidas para as Vítimas de Tortura, o GTNM/RJ formou uma equipe clínica que passou a prestar assistência terapêutica médico-psicológica e de reabilitação física a vítimas de tortura. Vera fez parte da equipe clínica do GTNM-RJ desde sua criação até este ano de 2010.
Justiça e reparação
Ao longo desses anos, sua experiência pessoal e a dedicação a outras vítimas convenceram-na que o mal causado pela tortura não pode ser completamente superado.
“O dano causado pela tortura se acentua se for silenciado e se não se fizer justiça, ou seja, se não houver reparação. O fato de o Estado, que deveria garantir e proteger a vida, ser o agente da violência, tem um efeito devastador na subjetividade. Nossa prática clínica é insuficiente para curar esse dano. Mas podemos tentar fazer com que as pessoas que passaram por essa experiência dilacerante se sintam melhor, deem um outro sentido a esta experiência, deslocando-a do plano meramente pessoal, individual, privado, para o plano do coletivo, da história”, ela diz.
Em julho de 1993, com o evento que ficou conhecido como a Chacina da Candelária (Candelária Massacre), quando crianças e adolescentes de rua foram assassinados por forças policiais na cidade do Rio de Janeiro, os membros da equipe se deram conta que sua área de atuação deveria ser ampliada. “Estávamos cuidando dos afetados pela violência do Estado ocorrida durante a ditadura, e nos demos conta de que outro segmento social estava sendo afetado por essa mesma violência naquele momento de transição para a democracia”, explica Vera.
Pobres: novo alvo da violência do Estado
Segundo ela, houve no período de transição uma mudança no perfil do principal alvo da violência do Estado. “No Brasil, não há mais perseguidos políticos como havia durante o regime militar. Hoje são os pobres as maiores vítimas da violência do Estado e, infelizmente, tortura e maus tratos são problemas graves e generalizados no país”.
Diariamente presenciamos exemplos grotescos de brutalidade, extermínio, torturas, violência e maus tratos no Brasil. Frequentemente a polícia entra nas favelas do Rio de Janeiro atirando indiscriminadamente, supostamente em busca de traficantes de drogas. No estado do Espírito Santo, dezenas de detentos foram amontoados em contêineres de carga onde a temperatura chegava a 50 graus centígrados. Em São Paulo, há pouco tempo um jovem rapaz, motobói, foi torturado até a morte por policiais e teve o corpo jogado numa rua da cidade”, ela conta.
“Historicamente, a violência cometida pelo Estado, incluindo a tortura, não recebe atenção da mídia, ao contrário do que acontece com casos de violência familiar ou de violência cometida por criminosos, que sempre ganham o horário nobre dos noticiários de televisão”, conta. “A razão é que as principais vítimas da violência do Estado são pessoas pobres. E os pobres no Brasil têm de ser invisibilizados. É como se houvesse uma tentativa das elites políticas e econômicas de invisibilizar o problema da pobreza e da violência que se abate sobre este setor ”, analisa.
Apesar desse quadro, Vera acha que a sociedade brasileira, aos poucos tem avançado na proteção dos direitos humanos, destacando esforços de alguns setores do governo. “É impressionante a discrepância entre a truculência de setores do Estado brasileiro e a preocupação sincera com a defesa dos direitos humanos de outros setores desse mesmo Estado”, ela diz.
Reparação integral
Para ela, o melhor exemplo de avanço nessa área é o Programa Nacional de Direitos Humanos – PNDH-3, resultado da mobilização de amplas forças sociais em Conferências Nacionais e lançado em dezembro de 2009 pelo presidente Lula da Silva. Na opinião de Vera, embora o Programa tenha sofrido alterações nos primeiros meses deste ano, ele representa um avanço nos esforços pela proteção dos direitos humanos no país.
Vera não está mais trabalhando na equipe clínica do GTNM-RJ, mas sua militância contra a violência do Estado continua. Ela participa de um grupo de terapeutas que se encarrega da criação de uma política pública nacional para a atenção aos afetados pela violência de Estado, e também das atividades de uma organização que trabalha pela reparação e memória de crimes de Estado - o Fórum de Reparação e Memória do Rio de Janeiro.
Sua militância atual reflete suas preocupações quanto à necessidade de que processos de reparação às vítimas de tortura e outros tipos de violência do Estado sejam integrais e não se restrinjam à compensação financeira. “É necessário ampliar o conhecimento sobre os acontecimentos, julgar os responsáveis e criar memória do que se passou”, ela diz.
Nos últimos anos, milhares de pessoas que foram perseguidas pelo regime militar têm recebido compensações econômicas do Estado brasileiro. Vera teme que a compensação econômica acabe tendo um efeito perverso. “A reparação econômica pode fazer com as pessoas se calem, com que elas silenciem seus clamores por justiça”. Aos 64 anos de idade, Vera continua trabalhando para impedir que esse silenciamento ocorra.
Para saber mais:
- GTNM/RJ
- Homenagem na Comissão da Anistia no Dia da Mulher 2010 - No Dia Internacional da Mulher no dia 8 de março de 2010, Vera Vital Brasil estava entre as 15 mulheres perseguidas politicamente durante o regime militar que foram homenageadas em sessão especial de julgamento da Comissão de Anistia do Ministério da Justica do Brasil.
sábado, 26 de junho de 2010
Dia Internacional de Apoio às Vítimas de Tortura
Nas últimas semanas, repetindo o que tem acontecido todos os anos desde que comecei a trabalhar no Conselho Internacional para Reabilitação de Vítimas de Tortura (IRCT), meus colegas e eu trabalhamos dobrado para tentar fazer de hoje um dia para ser lembrado pelo maior número possível de pessoas. Acho que este ano, graças ao poder das mídias sociais, conseguimos transmitir nossa mensagem a um número maior de pessoas (dê uma olhada no facebook.com/worldwithouttorture e o bloggersunite.org/event/international-day-in-support-of-torture-victims)
Nos últimos dias, falei muito sobre as vítimas de tortura e hoje quero reverenciar aqueles que, apesar da experiência dilacerante e desesperadora pela qual passaram, não desistiram da vida e continuam tentando acreditar na humanidade.
sábado, 19 de junho de 2010
Dinamarca vence Camarões na noite clara de verão
Até que tentei torcer para a Dinamarca, o que é um exercício um tanto quando desanimador. Quando o time fez o primeiro gol, fiquei esperando para ouvir gritos de júbilo ecoando pela cidade de Copenhague. Mas que nada. As ruas do bairro onde moro continuaram desertas, a noite clara de verão se manteve inalterada, pontilhada apenas pelo canto de um pássaro aqui, outro acolá e pelo som distante da autoestrada vizinha do quarteirão.
Aí veio o segundo gol da Dinamarca. Desta vez, pensei, a reação entusiasmada dos torcedores vai se fazer ouvir. Abri a janela da sala e esperei: um, dois, três, quatro, cinco e... nada. Decepção. De novo tudo calmo e plácido. Nenhum berro de alegria, nenhum fogo de artifício, nenhuma buzina. Que paz! Que tranquilidade! Enfim, que chatice!
quarta-feira, 9 de junho de 2010
Papel indesejado
Não dá para enfeitar e diminuir a coisa. O tratamento contra o câncer é barra pesada. Mas, como também disse à minha amiga, é um período dificílimo que, felizmente na grande maioria dos casos, termina com bons resultados.
O que eu não disse a ela é que a operação para retirada do tumor é o primeiro de uma série de procedimentos e rotinas que vão nos colocando num papel ao qual muitas de nós não estamos habituadas: o papel de doente. Mesmo depois de findo o tratamento mais intensivo e mesmo contra nossa vontade, o papel que nos é imposto continua a nos perseguir.
sexta-feira, 28 de maio de 2010
Ensaio clínico
Depois de terminada minha quimioterapia, recebi por um ano o medicamento trastuzumabe (nome comercial: Herceptin, uma droga que havia apresentado resultados muito bons no tratamento do meu tipo de câncer, o HER2 positivo. O trastuzumabe foi usado para inibir a expressão da proteína HER-2, que aumenta a possibilidade de recorrência do câncer e acelera a multiplicação das células cancerosas.
O trastuzumabe começou a ser usado há menos de 10 anos e só agora está se vendo os resultados a longo prazo do tratamento com a droga. Segundo a médica, infelizmente está se observando que, anos depois do tratamento terminado, o câncer volta a atacar muitas das mulheres que foram tratadas com trastuzumabe. Perguntei o que ela queria dizer com “muitas”, mas a resposta foi evasiva. “Mais do que gostaríamos de ver”, foi a resposta.
Perguntei também quais as minhas chances de que o câncer volte daqui a 5, 10 anos, mas ela novamente evitou uma resposta muito clara. Disse que era muito difícil fazer uma avaliação mais precisa porque há inúmeros fatores envolvidos, como idade, reação ao tratamento, tamanho do tumor etc e tal. Na consulta, a médica me ofereceu a oportunidade de participar do ensaio clínico de uma droga nova, a neratinib, inibidora da HER-2.
Saí de lá desanimada, com todas aquelas nuvens sombrias e eu havia esquecido havia algum tempo me perseguindo novamente, mas quase decidida a aceitar participar do ensaio. Só faltava eu conversar com meu marido. Achava que ele deveria ser informado da minha decisão, já que os efeitos colaterais do remédio poderão afetar um pouco nossa rotina.
No dia seguinte à consulta comuniquei a equipe do hospital que aceitava entrar no estudo. Na minha decisão pesou muito a lembrança dos dias de quimioterapia. Dias como aqueles quero tentar evitar.
Por um mundo sem tortura: A World Without Torture
A adesão à campanha, da qual sou uma das principais coordenadoras, tem sido fantástica. Em dois dias, mais de 1.100 pessoas se juntaram à campanha.
Olha o link aqui: www.facebook.com/WorldWithoutTorture
quinta-feira, 6 de maio de 2010
Mesmice
Comecei a achar que pouca coisa fazia sentido nessa alegria que sinto toda vez que a temperatura começa a aumentar e os dias se tornam longos e as noites claras. Tudo se repete, entra ano sai ano, tudo é igual.
Minhas divagações quase existencialistas continuaram um pouco mais e até começaram a fazer meu ânimo murchar. Aí dei um chega para lá em tanta elucubração. Melhor seguir, ir em frente, mesmo não sabendo bem para onde.
Aí a primavera esvaneceu, o frio voltou. Estes primeiros dias de maio têm sido os mais frios do mês em anos. Na manhã da última segunda-feira a temperatura chegou a -1,6 graus centígrados. Fazia cinco anos que não havia uma manhã de maio tão fria quanto essa. Os meteorologistas não prometem temperaturas muito mais altas nos próximos dias, o que me faz quase lamentar meus questionamentos sobre a banalidade da minha alegria primaveril. Me senti punida pelo frio, acompanhado de um vento irritante, que me obrigou a voltar a calçar botas de cano alto e empacotar minha filha em luvas, touca, e casacão de inverno.
quarta-feira, 21 de abril de 2010
Brasília 50 anos
Ontem, jornal dinamarquês Politiken publicou artigo de página inteira na capa do caderno de cultura sobre Brasília. O assunto principal da matéria foi, como era de se esperar, a arquitetura da cidade. Mas o artigo lembrou também a onda de escândalos que nublou o ânimo de quem pretendia comemorar o aniversário da capital brasileira. O autor da reportagem, o jornalista Henrik Jönsson, classificou a cidade como a mais corrupta do país. No artigo ele não revela os dados em que se baseou para fazer tal afirmação, mas fica difícil contestá-lo diante da roubalheira no governo local que veio à tona nos últimos meses. E, pelo bem dos brasileiros, torço mesmo para que não exista um lugar no Brasil que seja mais corrupto do que Brasília é agora.
sábado, 17 de abril de 2010
Aniversário da Margrethe II, de novo
O dia foi de festa para a rainha e muitos dos súditos mais leais. Milhares de pessoas foram a Amalienborg, a praça onde fica o palácio real, para cumprimentar de longe a aniversariante, que apareceu com o marido, filhos, noras e netos, numa varanda para acenar lá do alto para as milhares de pessoas lá embaixo. Eu não estava entre eles. Meu trabalho é bem perto do palácio real, mas hoje tive um curso no outro lado da cidade e nem precisei chegar perto das celebrações.
No carro, a caminho do curso, ouvi no rádio um historiador que, ao falar do nascimento e relembrar os momentos mais marcantes da vida da rainha, me deu algumas dicas para tentar entender por que a Margrethe II é tão popular. O historiador, cujo nome não ouvi, contou que Margrethe, a mais velha das três filhas do rei Frederik IX, nasceu durante a Segunda Guerra Mundial, quando a Dinamarca estava sob ocupação alemã. Para o historiador, o nascimento daquela criança reavivou em muitos a esperança de um futuro melhor.
Durante a ocupação alemã, a monarquia ganhou popularidade, principalmente devido à atuação do rei da época, Christian X, avó de Margrethe II. A atitude altiva do rei diante dos alemães foi admirada pelo povo e ajudou a manter a dignidade dos dinamarqueses, algo fundamental para manter a unidade do país que se rendeu praticamente sem resistência aos invasores.
quinta-feira, 15 de abril de 2010
Aniversário da Margrethe II
A família real recebe 95 milhões de coroas dinamarquesas isentos de impostos (algo em torno de 30 milhões de reais) por ano como uma espécie se salário. Além disso, várias despesas da família, como o navio em que viajam todo ano no verão, despesas de manutenção dos castelos reais, mais 76 agentes de segurança que acompanham a rainha Margrethe, o marido dela, filhos e respectivas esposas e netos, elevam os gastos para a soma de cerca de 400 milhões de coroas dinamarquesas por ano (aproximadamente 127 milhões de reais, o dinheiro brasileiro).
Mas tudo isso não impediu que a prefeitura de Copenhague, que está em dificuldades financeiras para manter serviços públicos como creches e jardins de infância, desse um presente de 230.000 coroas à rainha. Do governo federal, o presente foi ainda maior: 300.000 coroas, que serão usadas no jardim de roseiras do castelo onde a rainha passa os meses de verão. Tenho certeza que vai ficar lindo o roseiral da rainha.
domingo, 11 de abril de 2010
Aniversário da Margrethe
Ou melhor, a Dinamarca quase inteira. Hoje li no jornal que um grupo de republicanos, o Republikanske Grundlovsbevægelse, que eu livremente traduzo como algo próximo de Movimento Constitucional Republicano, queria marcar a data com uma manifestação pelo fim da monarquia. O grupo queria se manifestar na praça Amalienborg, onde ficam os palácios da família real, e na mesma hora em que a rainha sair na varanda para acenar aos súditos que estarão lá embaixo na rua olhando para cima com o pescoço doendo de esperar para cantar parabéns. Mas o plano esperto dos monarquistas não deu certo. A polícia de Copenhague proibiu a demonstração republicana.
terça-feira, 6 de abril de 2010
Estica estica
Na semana passada recebi a terceira e última injeção da solução salina que está sendo usada para expandir a pele. Como a aplicação foi de apenas 50 ml, em vez dos 100 ml que havia recebido duas semanas antes, tive bem menos dores e tive uma semana fisicamente mais agradável. Me alegro que em breve vou poder retomar minhas corridas e pedaladas para o trabalho.
Chuvas de abril
quarta-feira, 24 de março de 2010
Aviso e lamento
Ontem deveria ter voltado ao hospital para receber a terceira e última injeção de solução salina no meu peito. Mas, no dia anterior, tive que ligar para o hospital para cancelar a aplicação. Percebi que não aguentaria outra semana cheia de dor e desconforto físico como a que acabara de experimentar. A aplicação foi adiada por uma semana e já decidi que da próxima vez pedirei para receber um volume menor do que os 100 ml que recebi a semana passada.
Logo depois da aplicação da semana passada, comecei a sentir dores fortes no lado esquerdo do peito e no ombro esquerdo que continuaram pelos dois dias seguintes. Os analgésicos não foram suficientes para diminuir a dor que se alastrou pelo braço esquerdo e pelas costas. O desconforto e dor eram maiores na hora de ir para a cama, onde ficava horas procurando inutilmente uma posição que não causasse dor e acabava dormindo de puro cansaço. Também quase não consegui trabalhar porque sentada eu também não conseguia ficar por muito tempo. Ontem e hoje comecei a me sentir melhor. A dor passou, embora o desconforto continue quando vou dormir e a região do seio reconstruído ainda esteja muito dolorida.
Nesses dias, em nenhum momento pensei que não deveria ter feito a operação para reconstrução do seio, mas me irritei com o fato dos médicos não terem me preparado para a dor que poderia sentir. Me avisaram que haveria alguma dor, que seria facilmente aliviada com analgésicos comuns, mas o que senti foi muito pior do que esperava.
No auge da minha angústia, procurei na internet informações sobre a ocorrência de dor em procedimentos como o meu e quase invariavelmente li textos assinados por médicos garantindo que o método não causa dor. Em meio a tanto otimismo, achei um ou outro médico que admitia que algumas pacientes sofriam bastante dor, especialmente a partir da terceira ou quarta aplicação.
Depois fui atrás de depoimentos de pacientes que haviam passado pelo mesmo procedimento e aí a história mudou de figura. Várias delas haviam passado pelo mesmo que passei. Depois, quase por coincidência, fiquei sabendo de uma conhecida que está numa fase mais avançada do mesmo método que também tem sofrido bastante.
Me senti quase enganada. Claro que não gosto de dor, mas consigo conviver melhor com ela se sei que terei que enfrentá-la. E desta vez fui pega de surpresa.
sábado, 13 de março de 2010
Glauco
Fiquei chocada e triste.
Parece até que era alguém que eu conhecia de perto. Talvez conhecesse mesmo, só que através dos seus personagens da pá virada. O Geraldão era quase como se fosse um primo doidão.
Emocionante ver as homenagens ao Glauco no www.universohq.blogspot.com
Que perda!
sexta-feira, 12 de março de 2010
Prêmio controverso
Embora eu não saiba onde estão, talvez porque não ganhem espaço na mídia, deve haver muitos aqui que pensam como eu. Mesmo assim frequentemente chego a me achar uma esquisita, como se minhas opiniões contra a discriminação religiosa que os muçulmanos sofrem aqui na Dinamarca fossem tão radicais que me transformassem numa extremista.
Por isso me senti de alma lavada quando semanas atrás li uma longa entrevista com o escritor dinamarquês Carsten Jensen no jornal Politiken. Ele é um dos romancistas e ensaístas contemporâneos mais populares e premiados na Dinamarca, autor de “Vi o mundo começar" (minha tradução do título em inglês I've seen the world begin. ) e Nós, os afogados (minha tradução do título original em dinamarquês, "Vi, de druknede”).
Nessa entrevista Jensen disse:
“ - Se eu fosse imigrante, eu me se sentiria muito ofendido pelo modo como se referem a mim (…) Eu me sentiria diminuído”.
Recentemente ele recebeu o prêmio Olof Palm, por seu “humanismo, sensatez e fé no futuro”, concedido pelo Fundo pelo Entendimento Internacional Olof Palm. O prêmio o colocou ao lado de laureados nobres e respeitados como Anistia Internacional (1991), Václav Hnavel (1989), Daw Aung San Suu Kyi (2005), a ativista iraniana Parvin Ardalan (2007). Ao invés de se orgulharem do reconhecimento recebido pelo conterrâneo, muitos dinamarqueses ficaram furiosos com o prêmio e a imprensa reagiu de forma surpreendentemente negativa.
“Carsten Jensen recebe 400.000 coroas por criticar a Dinamarca” (Carsten Jensen får 400.000 kr. for at kritisere Danmark ), foi a manchete do Politiken, que é o mais à esquerda entre os três grandes jornais do país. Algo no mesmo tom saiu no site do DR, o maior canal de TV do país. Leitores do jornal chamaram o escritor de hipócrita e covarde e alguns pediram que ele se mudasse para a Suécia.
Tanta reação quase me chocou. Mas depois de ler um pouco mais sobre Jensen, comecei a entender tanta ira. Como um outro leitor do Politiken comentou, as reações furiosas são uma prova de que “... Carsten Jensen acerta no cerne do problema com a Dinamarca. Carsten Jensen mereceu esse prêmio. Peguem um Kleenex e sequem o ódio dos estrangeiros de suas faces” (minha tradução).
sábado, 6 de março de 2010
TV dinamarquesa: Brasil – a nova potência mundial
As reportagens trataram de várias questões como a boa fase da economia brasileira, as ambições brasileiras no cenário diplomático e militar internacional, sucessão do Lula, racismo e desigualdade social. Tudo de uma maneira bem superficial, embora eu não ache que tenham dito nada errado, mesmo que eu não concorde muito com algumas das opiniões emitidas.
De qualquer maneira, já não era sem tempo. Adoro samba, futebol e sou defensora ardorosa das florestas brasileiras, mas já estava cansada de sempre ouvir falarem do meu país como se lá os homens não fizessem outra coisa a não ser jogar futebol e as mulheres andassem o ano inteiro trajando fio dental e dançando samba no meio da Floresta Amazônica, onde, claro, está fincada a estátua do Cristo Redentor. Claro que há muitos dinamarqueses extremamente bem informados sobre o que acontece ao sul da linha do Equador, mas também há muitos que só agora estão descobrindo que há mais do que samba, floresta e futebol no lugar de onde veio. Agora só precisam descobrir que falamos português e não “brasiliansk” nem espanhol.
sexta-feira, 5 de março de 2010
Contra a maré
Muitos, inclusive o governo, contestam os números do AE, dizendo que o conceito de pobreza relativa da OECD é simplista e enganoso pois não dá uma imagem muito clara da realidade. Afinal, que pobre do Brasil não gostaria de viver com 8.400 coroas (cerca de 2.800 reais) por mês, que equivalem a metade da renda média dos dinamarqueses? Outra crítica é de que, em tempos de crescimento econômico, como foi o período 2001-2007, a renda total cresce e, consequentemente, a média da renda também, o que acaba colocando mais gente abaixo da linha da pobreza, mesmo que a a renda real dessas pessoas tenha se mantido inalterada.
Sem dúvida, pobreza, como medida pela AE, parece luxo na parte pobre do mundo e até no Brasil onde o salário mínimo é de apenas 1.500 coroas. Mas, não dá para negar que, se não mede a pobreza de forma precisa, o estudo da AE mostra, no mínimo, que a desigualdade social na Dinamarca está aumentando. O que, na minha opinião, não deixa de ser lamentável, ainda mais quando lembramos que 2010 é o Ano Europeu de Luta contra a Pobreza e a Exclusão Social.
quinta-feira, 4 de março de 2010
Mudanças de estação
As mudanças políticas parecem ter trazido mudanças no tempo. Finalmente parece que a primavera está chegando. As noites ainda estão geladas, mas aparentemente os dias com temperaturas abaixo de zero terminaram por esta estação. O gelo está derretendo lentamente e logo será hora de voltar ao jardim, onde as flores de primavera mais audaciosas já começam a desafiar o frio.
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
Enfermeiro de contato
Preciso novamente escrever sobre a gentileza, presteza e atenção que recebo dos enfermeiros dinamarqueses. Falo enfermeiros porque nesta internação pela primeira vez recebi os cuidados de enfermeiros do sexo masculino. Um deles é meu enfermeiro de contato, o que quer dizer que é ele quem vai acompanhar meu caso. Pare ele, só tenho elogios. Além de gentil, prestativo e atencioso, é doce e simpático.
Acesso de Dercy Gonçalves
Se obedecesse aos meus instintos, sairia pelos corredores do hospital, a minha passarela do samba, com os seios desnudos ostentando meu peito impávido, embora nem tão colossal. Poderia até usar minha maca como uma espécie de carro alegórico empurrado pelos enfermeiros que certamente me acompanhariam num cortejo barulhento e alegre.
Mas meus pruridos moralistas me impedem de levar adiante a ideia de um desfile peitoral. Afinal, o carnaval já passou. E tem mais. Eu correria o risco de ter minha alegria confundida com loucura e de me ver transferida para o departamento psiquiátrico do hospital.
terça-feira, 23 de fevereiro de 2010
De uma cama de hospital
A cirurgia aconteceu antes de ontem e tudo correu como planejado. Os médicos fizeram um corte de uns cinco centímetros sobre a antiga cicatriz e colocaram sob a pele e músculo peitoral uma espécie de balão chamado de expander (ekspander em dinamarquês) que encheram com uma solução salina. Daqui a duas semanas terei de voltar ao hospital para que o balão receba mais líquido. O enchimento do balão vai se repetir por outras quatro a seis vezes. Três a quatro meses depois da última vez que encherem o balão do meu peito, serei operada novamente para que um implante definitivo de silicone seja implantado.
Todo o procedimento com o expander se fez necessário porque, quando fui operada para retirada do tumor, parte da pele do peito também foi retirada. Portanto, para que um implante de silicone coubesse sob a minha pele, ela teria de se expandir, o que está sendo possível graças ao expander.
Ufa! Espero que minha explicação de paciente leiga esteja correta. Tanta explicação científica me lembra dos meus tempos de repórter da revista Ciência Hoje. Ah, que saudade de jornalismo científico. Por favor médicos de plantão, me corrijam se escrevi alguma besteira.
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010
Que vergonha!
Algo que me deixou boquiaberta e até um pouco constrangida porque ainda me considero uma jornalista, embora esteja afastada da profissão, foi a participação de tantos jornalistas nas tramoias do Arruda. O que me deixou ainda mais de queixo caído foi ver jornalistas com quem trabalhei em jornais de Brasília envolvidos até o pescoço no mensalão do governo do DF.
Pensei sobre o que teria a dizer a esses meus ex-colegas. Só duas palavras: Que vergonha!
terça-feira, 9 de fevereiro de 2010
Cidade dos ciclistas II
Nisso tenho que dar o braço a torcer: dinamarquês é mesmo duro na queda quando se trata de pedalar. Mesmo com o gelo cobrindo as pistas e montes de bloqueando ruas, ele não desiste do bom hábito de pedalar. É claro que há exceções: em dias de tempestades de neve ou vento, quando até mesmo o serviço de meteorologia aconselha ciclistas e motoristas a usar o transporte público, há pouquíssimos que ousam desafiar a sorte.
Mas desde que voltei do Brasil tenho visto o trânsito de bicicletas pouco alterado pelos centímetros e centímetros de neve que têm caído em Copenhague. É certo que o número de ciclistas sempre diminui no inverno, mas dá par ver que a grande maioria dos ciclistas já está de volta às pistas depois da tempestade de neve da semana passada. Aliás, de acordo com o blog www.copenhagenize.com, diariamente cerca de 500.000 pessoas preferem pedalar a usar carros ou o transporte coletivo Copenhague. Isso corresponderia a 37 por cento das pessoas que cruzam os limites da cidade e 55 por cento das pessoas que vivem no centro da capital dinamarquesa.
A rede excelente de ciclovias e a boa sinalização das ruas estimulam e tornam mais seguro pedalar em Copenhague. A geografia também ajuda. A cidade é predominantemente plana, com poucas e suaves elevações.
Fazendo bom uso de tantas condições vantajosas, os habitantes de Copenhague se movem e movem quase de tudo em suas bicicletas. Já vi gente se equilibrando sobre as duas rodas carregando galões de tinta, cachorro, gato, engradados de cerveja, uma poltrona, outra bicicleta, árvore de natal, pneus de carro, material de construção e televisão. De modo geral a ousadia é bem sucedida, embora também já tenha visto o asfalto da pista para ciclistas coberto com a tinta verde que alguém deixou derramar, provavelmente devido a uma queda da bicicleta.
Tudo que é tipo de bicicleta se encontra por aqui: com cesta na frente do guidom, com cesta no bagageiro, com três rodas, a chamada bicicleta Christiania (link) que tem um vagãozinho na frente para crianças, modelo tradicional, modelo mountain bike, elétricas, com dois guidons para ciclistas apaixonados, com cabo puxando uma terceira roda para uma criança ir pedalando atrás .
Algo que adoro ver são as flores de plástico que enfeitam as cestas das bicicletas das moças mais românticas, como a vista nesta bela foto do Lars Daniel no Flickr.
Sobre os perigos de se pedalar em pista coberta de gelo, vale dar uma olhada no vídeo abaixo, feito na Holanda, outra terra de ciclistas. Felizmente, parece que ninguém se machucou, mas fica a pergunta: por que o ser humano que filmou o vídeo não desceu para a rua para colocar um pouco de sal ou areia na pista e ajudar a evitar as quedas?
terça-feira, 2 de fevereiro de 2010
Brrrrrrr
De 1 grau centígrado de manhã, a temperatura caiu para menos dois à tarde, e teria despencado para cerca de 12 graus negativos hoje à noite, segundo o serviço meteorológico daqui. Tentei checar se a baixíssima temperatura se confirmou, mas site do instituto de meteorologia da Dinamarca estava fora do ar, provavelmente como consequência do aumento da procura por informações sobre a tempestade de neve que está começando agora.
(Agora! “Calma, calma, não entre em pânico”, digo a mim mesma.)
Daqui a pouco vou buscar minha filha no jardim de infância e acabei de saber que o pior da tempestade vai ser entre as 15 e as 19 horas. Legal né? Eu havia planejado sair de casa exatamente às 15 horas. Acho que vou ter de rever meus planos.
Ontem, concluí que hoje não daria para usar o automóvel para buscar minha filha. O pai a levou de manhã, quando o vento ainda não era forte, mas hoje à tarde vou ter de enfrentar a tempestade a pé puxando um trenó de plástico no qual vou puxar a Gabi no caminho de volta para casa. Ela, claro, vai adorar, se o vento não estiver forte demais e fazer com que a neve doa quando bater na pele do rosto, a única parte descoberta do corpo.
Ontem foi quase impossível encontrar um lugar seguro para estacionar já que a rua do jardim de infância está quase bloqueada pela neve. À tarde, quando tentei estacionar, o carro patinou na neve e tive de manobrar de ré para não ficar atolada. Dei uma volta pelo quarteirão para tentar achar uma vaga e voltei ao mesmo lugar da patinação automobilística, onde a rua ficou bloqueda por 15 minutos por neve e um carro estacionado meio na transversal pela mãe de um coleguinha da minha filha.
Bonito né? Realmente é muito bonito. Tudo branquinho, coberto de neve. Mas dá um trabalho. E me faz lembrar com saudade das férias na Bahia e cantarolar “I don't want to stay here, I wanna to (sic) go back to Bahia” (confira o Paulo Diniz no link enviado por uma amiga.